dos forasteiros, e novos povoadores; resta darmos também alguma ideia que seja mais útil, fácil e suave para a fatura das embarcações, e que também precise de menos oficiais do que costumam; e para melhor me explicar, será preciso trazer à memória a praxe atual da sua factura, segundo já expusemos na primeira parte, que é assim, falando das canoas grandes: primeiramente necessitam os moradores de muita gente quando querem mandar fazer alguma canoa grande porque elegem para isso um grande madeiro, e de pau muito pesado e duro que para se poder menear, lavrar, e conduzir ao estaleiro necessita de muita gente, de bons mestres, de oficiais práticos e bons operários; passeiam estes pelas matas, medem os paus, fazem eleição de algum, põem-lhe o machado, e o seu corte, não dá pouco, que fazer, aos obreiros; como cada um pode considerar dos que sabem a dureza daqueles paus; com grossura v. g. de 30 palmos; deitado no chão lhe decotam as pernadas, e rama, e põem direito, e limpo como um mastro de navio: depois entrar os mestres com suas medidas, e por elas entram os oficiais a bolear aquele grande madeiro dando-lhe nas pontas o feitio, segundo querem que ao depois haja de ter a proa e popa.
Depois fazendo-lhe um corte desde uma até a outra ponta da largura v. g. de 2 palmos, por este corte entram com instrumentos próprios a escavacar por dentro quantos operários podem caber, cuja obra leva bastante tempo; e para não escavacarem mais do necessário têm furado todo o madeiro com um trado, em que têm a medida e grossura que há de ter o casco da canoa, dois dedos e meio v. g.; e não entra, nem fura mais o trado, com buracos de palmo em palmo de distância uns dos outros; com esta medida escavacam os oficiais o pau por dentro até descobrirem os buracos, e fica aquele grande cortiço todo buracado como um crivo; depois entram a limpá-lo e alisá-lo;