Ensaio sobre as construções navais indígenas do Brasil

depois lhe metem, e tapam todos estes buracos com tornos de pau: tudo isto fazem no mato onde o cortaram, e como tudo isto leva bastante tempo, e necessita de bastante gente fazem antes de tudo alguma choupana ou ramada onde se recolhem, e dormem:

Resta ainda o mais trabalho, que é o conduzirem este grande casco, ou cortiço ao Estaleiro, para o que é necessário cortar muito mato, e fazer-lhe caminho em que o vão rodando, ou suspenso em braços até a margem do rio mais vizinho; e nele lançado o vão conduzindo até o sítio do dono, e acomodam no estaleiro, nele o suspendem no ar sobre tesouras de pau, levantado da terra cousa de 3 palmos: põem-lhe pelas bordas muitas tesouras de paus pesados encaixadas nos bordos com rachas e direitas acima, e nas pontas de cima tem cordas, ou cipós pendurados abaixo: Depois lhe põem da parte de cima, e de dentro no lombo do casco de popa e proa uma grossa camada de lodo: Logo sobre ele lhe põem bastante lenha bem seca desde uma até a outra ponta; da parte de baixo, que é a de fora, lhe põem também muita lenha, tudo com sua proporção conta e medida, e tem aparte e muita mais outra lenha, que hão de ir subministrando no tempo do fogo.

Com este preparo rodeado de oficiais o casco, mandar o mestre lançar fogo à lenha assim da parte de cima como pela parte de baixo, e se vai por da parte da proa bem no meio olhando direito para todo o casco, muito atento, e pronto para mandar à via, e tanto mais ele atende ao casco, e ao fogo tanto mais os circunstantes atendem para ele prontos a obedecer-lhe a qualquer voz, nuto ou aceno: Vai já o casco aquecendo, abrandando, e deixando cair para baixo ajudado do calor do fogo, e do peso das tesouras os bordos ou abas; mas como ordinariamente não descem com a igualdade necessária