Ensaio sobre as construções navais indígenas do Brasil

da convenção entre eles e a pessoa que os necessita, e da habilidade e conhecimentos práticos deles acerca dos canais navegáveis e curso das águas do rio ; todavia paga-se, mais ou menos, a metade mais do que importa a gratificação que os barqueiros percebem. Além destes pagamentos, dá-se ainda sustento que deve ser muito substancial, isto é, carne três vezes por dia, farinha de milho e mandioca, feijão e arroz muito bem temperados, peixe, café, aguardente, e ao meio-dia jacuba, que é água com farinha de mandioca e rapadura, etc., etc. Não há dúvida que o serviço de barqueiro é pesadíssimo, e às vezes é necessário que eles façam força extraordinária no impulsar ou sustentar a embarcação com as varas, de maneira que muitas vezes é o corpo dos barqueiros horizontalmente estendido sobre as coxias, e só sustentam-se nos dedos dos pés, e com o ombro da ponta da vara. Em consequência disso acontece que os seus peitos, próximos aos braços, quase sempre ficam dilacerados com grandes feridas; porém também não há dúvida que um barqueiro come quatro vezes mais do que qualquer trabalhador no mais pesado serviço terrestre. Os serviços dos barqueiros começam ao romper do dia e terminam ao escurecer.

"Cada uma embarcação leva consigo uma bozina de chifre, concha grande marítima ou feita de folha de Flandres, não só para anunciar a chegada quando aproximam-se a qualquer porto, mas também para se cumprimentarem entre si na ocasião do encontro, sendo estabelecido e observado com todo o rigor certa superioridade, de sorte que as canoas e ajoujos devem salvar as barcas, porém estas soberbamente passam por elas e não respondem; as barcas entre si se salvam reciprocamente,