Ensaio sobre as construções navais indígenas do Brasil

Estas embarcações tomaram parte muito ativa nas lutas com os holandeses no século XVII, ora figurando com o nome de barcaças, e ora com o de barcas; e entre diversos fatos, em que elas figuraram, destacamos os seguintes:

O General Holandês tendo posto cerco ao forte de Cabedello, na Paraíba, necessitava destruir a bateria de S. Bento, sob cujo fogo estavam suas tropas. O coronel Andresen aproveitando-se do espesso nevoeiro da manhã do dia 9 de dezembro de 1634, entrou a barra sem ser apercebido com sete navios e seis barcaças, que tomaram a bateria.

A guarnição de Cabedello sentia já falta de víveres e de munições, os quais só lhe poderiam vir do forte de Santo Antonio, de que hoje não existem mais vestígios, e o único meio era por água e por entre o fogo dos holandeses, que dominavam as margens, e foi o que aconteceu.

Quatro lanchas cobertas de couros molhados levaram socorros à fortaleza através das trevas e do fumo da artilheria. Este fato já por si de verdadeiro patriotismo e abnegação foi ainda ilustrado pelo procedimento de Antonio Peres Calhau, patrão de uma das lanchas, o qual tendo perdido um braço por uma bala de artilheria dizia, ao querer seu irmão Francisco Peres Calhau substituí-lo: "Para me suceder em o posto, ainda tenho este irmão mais chegado" e governou com o outro braço, que depois perdeu, até que teve de ser rendido por ele por ter caído sem sentidos por uma bala que bateu-lhe no peito. Seu irmão tomou o governo, e perdeu também o braço direito, passando a governar com o esquerdo como tinha feito o