Ensaio sobre as construções navais indígenas do Brasil

"Pelo que se vê é notável a abundância de peixe em nossos mares, mas oferecem-se duas dificuldades para a pescaria em jangadas. A primeira é a distância de 30 léguas para as jangadas alcançarem o pesqueiro, o que conseguem navegando em dois bordos e por 24 a 30 horas, regressando quase sempre com vento largo. A outra é a grande correnteza do mar, quer na enchente quer na vazante, principalmente nas marés de plenilúnio; observando-se chicotear em cima d'água, sem levar o anzol ao fundo, uma linha com uma chumbada pesando duas libras. O Sr. Amancio teve pescaria, que lhe deixou de interesse 86$000, além de muito peixe, que dava aos seus amigos e guardava para o consumo de sua casa. Da parte do presidente da província, do chefe de polícia, e do capitão do porto houve todo o auxílio que consistia em não ser recrutado nenhum dos tripulantes dessas jangadas, e nessa época era isto um grande favor, mormente não sendo pedido. Não se deu, durante seis meses de pescaria, um só desastre, uma só infelicidade! Apesar de tudo isto, as jangadas em perfeito estado e com todos os seus utensílios ficaram abandonadas na praia da Trindade! Qual a causa?

"Arrefeceria a deligência e o esforço, a dedicação e atividade do Sr. Amancio Cearense? Não: os jangadeiros, a princípio trabalhadores e contentes, do dia para noite, sem causa conhecida, transformaram-se em indolentes e vadios.

"Abandonaram as jangadas, e foram pescar nas canoas, isto é, deixaram a pesca abundante, a que estavam habituados, para se entregarem à pescaria mesquinha, de que não tinham nenhuma prática! Note-se mais, que no contrato, feito com todas as formalidades no Ceará, o Sr. Amancio era obrigado a lhes dar passagem quando não quisessem continuar, e nenhum o procurou para tal fim.