"Cada jangada, com os competentes preparos para a pesca, custou no Ceará 200$000, e para aqui veio tripulada com três homens peritos neste meio de vida, contratados cada um por 50$000 mensais. Depois de três dias da sua chegada foram fazer uma viagem, puramente de experiências, pois nada sabiam dos mares desta província. Já com algum conhecimento da costa dirigiram-se outra vez ao mar alto.
"Não foi necessário ir muito longe para que a sonda mostrasse parcél ou pesqueiro. Arreiaram a poita, que eles chamam tauaçu, soltaram as linhas na água, e em 28 braças de fundo, na preia-mar, apanharam à fisga muitas garoupas, pargos e carapitangas. Quando principiaram a apanhar os peixes presos aos anzóis, apareceram enormes tubarões arrebatando-os, e até cortando as linhas. Dentro do espaço de meia hora a jangada estava cercada de muito sangue, onde andavam muitos vorazes, que eram facilmente mortos a arpão. Passou-se esta cena a 20 e tantas léguas distante da fortaleza de S. Marcos, além do canal, onde a água é tão limpa, que até deixa ver claramente o peixe distante algumas braças do fundo. Nessa pescaria apanharam curumarús, de 10 a 15 palmos de comprimento, de cujo fígado se extrai ordinariamente 10 a 12 garrafas de azeite, bem como o cação-lixa, cavala, pargos de três qualidades, cangulos, bijupirás, biquara, guaiuba e mais outras qualidades de peixe, quase todas desconhecidas aqui por nunca terem vindo ao mercado.
"Nesse tempo reinava muita calmaria, e por falta de ventos era impossível chegar-se aos pesqueiros.
"Não obstante isto navegaram pela costa desde o norte da Ilha de São João, em busca dos baixos de Manoel Luiz ao sul do farol de Sant'Anna, onde viram cardumes de camoropim, que não foram apanhados porque eles não caíam no anzol, e os pescadores haviam perdido os arpões.