governo comedido e pacífico, influenciado pelas ideias do tempo para maior benefício do povo lusitano, e que no correr dos anos se revelou monstruoso de crueldade. No entanto, a contar do físico, a aparência de S. M. inspirava confiança. Meão, algum tanto barrigudo, com aspecto de bom burguês, e demais predicados atinentes, preferindo cozinhar os "casos" políticos em água fria, empregando largamente a corrupção quando esbarrava em dificuldades, cioso como ninguém do poder, embora fingindo dar carta-branca aos ministros, a ponto de parecer abúlico aos ingênuos, tornou-se D. José responsável por um dos governos mais insuportáveis da sua época.
A calamidade pertence, em que pese certos autores, às "repetições da história". É o tributo pago por um governante à corrente irresistível que ele desencadeia e não pode dominar, desde que esteja contagiado por uma das mais virulentas moléstias da patologia política - a embriaguez do mando. Em outras condições, e outros tempos, o herdeiro do "Sardanapalo de Odivellas", como lhe chamavam os historiadores liberais, teria sido um excelente magistrado constitucional. Em uma monarquia do século 18, transformou-se em déspota e algoz.
O que devemos observar em sucessos deste gênero é apenas a interação entre indivíduo e regime, que tudo subverte, fazendo recair sobre ele o fardo das máculas do desgoverno. Ninguém foge ao destino