voltavam-se para a lembrança das Espanhas, suavizada pela contínua comparação com a rude América, aformoseada a Europa pelas saudades que lhe iluminavam as cousas boas e apagavam as más. Ao lado da casa grande o pequeno crioulo branco encontrava o elemento nativo, seu mestre das cousas brasílicas, de onde lhe vinha o interesse pela terra. Os índios se pareciam com a natureza, "Vivem ao leo, descuidosos do dia seguinte, avessos ao trabalho, apenas á cata de bebida, tecendo alguns panos para as camisolas das mulheres e timões para si" diz o cronista de Nassau. Demonstravam mais uma cousa, espantosa para holandeses e europeus em geral; "Não se importam com dinheiro, a menos que seja para comprar vinho espanhol e aguardente. Alentados por promessas, ou pela esperança de vir a receber estas cousas, suportam alegres, quaesquer labores e sem o seu estímulo, mostram má vontade e tristesa".
Depois do caçador e pescador índio, que ensinava como se armavam arapucas, ou se encontravam pelas capoeiras os visgos de pegar pássaros, vinha o negro tristonho no eito, compenetrado nas procissões, e doidamente folgazão aos domingos. Pyrard considerava um prazer vê-lo nos dias de festa ajuntar-se nas ruas e praças, dançando em público, "car ces jours lá ils ne sont pas sugets à leurs maistres". O negro dançava sem parar durante horas até ficar alucinado, ao som dos instrumentos que importava ou reproduzia dos da África. Muitas