Tapirapé - tribo tupi no Brasil Central

só publicada recentemente por Serafim Leite (1 103-110), é, pelo que sei, a primeira referência a uma tribo tupi no Araguaia. Segundo Taunay (181-192), desde o começo do século XVII até a saída da mencionada expedição, partiram várias bandeiras de São Paulo. Mas os dados a seu respeito são tão deficientes que raramente é possível identificar as localidades do itinerário. Entre as poucas bandeiras assim determináveis não há nenhuma que tinha ido ao Araguaia. A 3 de novembro de 1937 o citado historiador das bandeiras paulistas me disse que, na sua opinião, a primeira expedição de São Paulo a esse rio foi a de 1613.

O aludido documento a respeito dela, editado pelo padre Leite, está redigido pelo jesuíta Antônio de Araújo, contendo as informações de Pero Domingues, um dos 30 moradores da mencionada vila, de que se compunha a bandeira. Referindo-se a "sete aldeias mui grandes" encontradas pelos viajantes "tanto quanto como duas léguas da barra do Iabeberi", isto é, Tocantins (cf. Leite 1 101), o relatório diz (ibidem 105-106): "Os índios delas se chamavam caatingas. Sua língua era a geral desta costa. Entre eles acharam os nossos muita ferramenta, fouces, cunhas, machados, muito velório, grande número de camisas de ruão, com muitos chapéus, o que tudo disseram iam resgatar por penas, frecharia, de que tinham cheias muitas canoas dentro em suas casas, e por algodão, com os franceses que afirmaram distarem deles 11 jornadas pelo rio abaixo, em uma fortaleza que havia muitos anos aí fizeram; ajuntando mais que os ditos tinham engenho de açúcar, que faziam dos canaviais que possuíam. Confessaram que tinham dado a morte a sete franceses, que deviam de ter fugido da dita fortaleza dos seus, por cujo recado decreto os ditos índios os matariam. E, sem serem perguntados, disseram que daí a tantas jornadas, em outro braço do mesmo Pará, habitavam as que nós chamamos almazonas e eles camaïma, sc., mulheres sem peito. Afirmaram outrossim que pelo rio abaixo, de uma e de outra banda, havia grande número de aldeias, das quais não faltavam muitas pelo mesmo rio acima, mas pela terra dentro. Os das sete começaram logo a despachar mensageiros aos das outras pedindo-lhes que fossem visitar os brancos que com eles estavam. Temendo-se os 30 e receando alguma traição determinaram fazer aí pouca demora. Pregam-lhes mil louvores dos brancos, pedem-lhes que se venham com eles para S. Paulo, onde estarão todos juntos com suas igrejas e com o mais necessário para a própria salvação, mas tudo com engano, profissão de sertanistas. Abalam três mil almas. E como havia pouco tempo que tinham mudado sítio, e os círios de farinha, das roças que desfizeram no que deixaram, eram quase sem número, em quatro dias de detença se embarcaram em 300 canoas das muitas que possuíam. Ao embarcar tiveram os 30 modo para tomarem aos abalados todos os arcos e frechas. Começam pois a navegar pelo dito rio acima, tomando todos os dias terra, onde descançar e dormirem. Entre as três mil almas vinha uma índia (que devia ser filha dalgum dos sete franceses, dos quais ali não faltava geração), mulher de um filho de certo principal que seguia os nossos. Esta (da qual diz o informante que a natureza se esmerara em a dotar das partes requitas (sic) pera a perfeição corporal) deu o capitão a um seu apaniguado, o qual por se ver livre ou mais cativo dos cuidados que lhe causava a presença do marido tornou a dar esta ao próprio capitão. Sentiu tanto o triste índio o esbulho do seu natural matrimônio, e todos os mais o verem-se a poucas jornadas repartidos, que em certa hora e paragem entre si acordaram e se alevantaram contra os 30 dos quais mataram 16 e alguns índios dos que levaram de cá. E dando-se por satisfeitos com a morte destes fizeram volta para as suas aldeias nas mesmas canoas. Os 14 que escaparam, nas que puderam haver, continuaram pelo rio acima não trazendo mais que dous dos ditos caatingas, que não quiseram ou não puderam seguir os mais. Chegaram estes à vila de S. Paulo, donde tinham partido havia 19 meses..."

A identificação de seu idioma com a Língua Geral classifica os "caatingas" como tupi. Os tupi que atualmente moram mais perto da região em apreço são os mudjetíre, considerados por alguns pesquisadores como subgrupo asurini (Malcher 144).

Se nos basearmos em nomes que até certo ponto se assemelham, podemos considerar como referência aos tapirapé, a frase de um documento seiscentista para a qual Curt Nimuendajú chamou minha atenção, qualificando-a como a mais antiga menção aos tapirapé conhecida por

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