II
O nome e a procedência da tribo
O rio Tapirapé é o rio dos índios tapirapé. Eles são conhecidos como sendo os habitantes dessa bacia fluvial.
Já mencionei que a palavra tapirapé significa, em tupi, "caminho de anta". Disse também que o rio desse nome se distingue do Araguaia pela abundância de tais caminhos trilhados nas suas margens pelo grande mamífero. Pode ser, por isso, que viajantes brancos deram o nome Tapirapé para caracterizar a citada particularidade e que ele se estendeu, depois, à tribo conhecida como habitante da região. Mas há um mapa da zona em questão, registrado sob número 220 na mapoteca do Itamaraty, Ministério das Relações Exteriores do Brasil, que deve ser do fim do século XVIII, conforme me declarou o dr. Afonso de E. Taunay, uma das maiores autoridades a respeito. Aí encontramos a palavra tapirapé só como designação desses índios e não de um rio, sendo anônimo aquele perto do qual estão assentadas as aldeias da tribo tupi e que corre ao longo do nono grau de latitude sul (cf. mapa 2). Por isso, pode ser também, que o nome tapirapé tenha passado da tribo para o rio. Há, por fim, a possibilidade de terem a tribo e o rio recebido o mesmo nome independentemente um do outro, pois ignoramos se o rio teve ou não esse nome antes de a tribo morar nos seus arredores ou se esta assim se chamava antes de lá chegar.
É digno de nota estar assentado no mapa reproduzido por Kissenberth (1 37 e 2 37) um segundo rio Tapirapé, entre sexto e sétimo grau de latitude sul e cerca de 51° de longitude oeste, por conseguinte, quase ao norte de Tampiitaua, separado desta aldeia uns três ou quatro graus de latitude. Esse rio, no citado mapa, é um dos afluentes meridionais do Itacaiúnas, que por sua vez desemboca perto de Marabá, no baixo Tocantins.
Talvez os índios tapirapé morassem lá antigamente, tendo recebido, então, o seu nome daquele rio ou este o nome deles. O grande mapa organizado pelo Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, impresso por Dietrich Reimer, Berlim, 1922, não indica nominalmente o citado afluente do rio Itacaiúnas, contendo, porém, sem dar os nomes, alguns dos seus tributários meridionais, dos quais, provavelmente, um poderá se identificar com o segundo Tapirapé do mapa de Kissenberth.
Não muito longe da foz do Itacaiúnas, a saber, na margem direita do Araguaia, duas léguas acima de sua confluência com o Tocantins, morava a tribo tupi que foi encontrada por uma bandeira saída de São Paulo em 1613. A descrição desse encontro,