Tapirapé - tribo tupi no Brasil Central

Evidentemente, não era eu, o visitante deitado na rede vizinha, quem provocava este sorriso - um sorriso espontâneo, não aquele estereotipado da hospitalidade. Embora tenha sido um sorriso leve da madrugada, afigura-se-me hoje com a grave beleza de um pôr do sol. Não era só o sorriso do indivíduo Kamairahó. Era o sorriso da cultura tapirapé de então. As fontes do bem-estar cultural que, naquela época, alimentavam o sorriso, exauriram-se. Ignoro o bem-estar cultural dos tapirapé que, agora, bem perto do Araguaia, vivem em contato intenso e permanente com o branco. Suponho, porém, que, entre eles, um sorriso semelhante àquele sorriso matinal de Kamairahó, se é que brotam ainda hoje tais sorrisos, tem de provir de outras fontes.

Como se formou o sorriso da hospitalidade constantemente ligado ao complexo cultural tapirapé do visitante? Chamá-lo flor do medo seria exagero. O mecanismo de comportamentos posto em função pela presença do forasteiro não pode ser considerado simplesmente como defesa. Exprime diversas emoções. É contraditório. Em 1935, depois da despedida de Tampiitaua, os homens e rapazes que mais gostavam de nós foram conosco até o rio. Permaneceram imóveis na margem enquanto a canoa se afastava. Mas não silenciosos. Exclamaram palavras afetuosas. Quem mais tempo gritou foi Kamairá, o prestimoso informante que muito me ajudou acerca dos termos de parentesco e que deu ao companheiro Kegel os nomes de 97 aves. Wagley, quatro anos depois, não o encontrou mais em Tampiitaua. Contaram-lhe que Kamairá, aflito pela nossa partida, tinha emigrado para Chichutaua. Este fato me levou a meditar sobre a extensão do conceito da amizade.

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