Thomas Ender, pintor austríaco na corte de D.João VI no Rio de Janeiro: um episódio da formação da classe dirigente brasileira,

os pesadíssimos encargos trazidos pela vinda da corte à capitania, duramente afetada pelas lutas contra os castelhanos no século 18, além do desfalque de braços produzido pela atração das lavras das Minas Gerais. O expansionismo luso para o sul recrescera com sacrifícios do paulistano, iniquidade a incutir nos habitantes persistente horror à farda, provocando também fortalecimento da sua consciência democrática, avessa a todas as compressões e abusos do poder, tornando-os paladinos da luta contra a tirania, fosse de Reis no antigo regime, ou de ditadores na atualidade(21). Nota do Autor

Ocorrem na pena de Martius referências às repercussões da Campanha Cisplatina visíveis na estrada que a expedição percorria. O recrutamento forçado absorvia, como vimos, os braços necessários à lavoura. Dizimara famílias, arrebanhara os homens válidos, separara-os dos parentes para atirá-los nos infectos presídios do sul onde apodreciam. O Conde da Barca, obsequioso servo de ambições monárquicas, a despeito das abominações da revolução francesa que em Paris presenciara e da lição que daí podia inferir, em vez de os conter, incentiva-lhes os disparates, procurando lisonjear os amos, ao mesmo tempo que satisfazia o seu próprio nativismo. De doze mil homens remetidos ao Prata pouco antes do aparecimento de Ender em S. Paulo, quatro mil eram paulistas, seguidos de nova leva na guerra contra Artigas, perda irreparável para a diminuta população branca da capitania. Em pouco chegavam notícias confrangedoras do seu destino, para maior consternação de inúmeras famílias atingidas. Muitos dos infelizes

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