inverno fluminense pesado calor tropical molesto a europeus de clima frio. Em cartas a amigos queixava-se Ender da temperatura e dos seus deprimentes efeitos. A cidade era abafada, malodorante, construída em grande parte sobre charcos, agravados os males pelo seu feitio luso-africano, inóspito a gente civilizada. Ocorreu felizmente, a certa altura, providencial incidente para maior benefício do artista. No correr de excursão na serra dos órgãos, descobriu Ender entre rochedos riacho frigidíssimo. Mais que depressa aproveitou a oportunidade de nele se banhar pela manhã, e com tanto proveito, para a sua saúde, que à noite repetiu a imersão. Bons tempos aqueles quando na capital de S. M. A. o Imperador da Áustria, deixavam os súditos de se mitridatizarem ao efeito de abluções por falta de água encanada, proporcionando assim, no Rio de Janeiro a um dos seus representantes, milagrosos efeitos com pouca despesa!
No fim do ano dedicaram-se os expedicionários aos preparativos da grande incursão pelo Brasil adentro. Metódico na sua maneira de proceder, resolvera Martius iniciá-la por S. Paulo, que lhe diziam possuir clima ameno, prosseguindo na caminhada com graduação que permitiria aos viajantes habituarem-se pouco a pouco ao calor das capitanias setentrionais. Havia, porém, outro atrativo na escolha, que nos parece hoje estranho. Gozava no momento a Pauliceia de inesperado poder de atração turística, quase incompreensível dada a sua segregação do litoral. Não obstante, tornara-se visita obrigatória de cientistas, artistas, diplomatas e aristocratas franceses, ingleses, dinamarqueses, alemães, austríacos, russos, etc., de passagem na capital do Reino Unido, como entre outros o Conde Pahlen, embaixador do Tzar. Provavelmente proviria da fama de seu clima, como se depreende do projeto durante certo espaço afagado pelo Príncipe Regente, de para aí transferir a sede do país.