Fronteiras e fronteiros

Tudo faz crer, aliás, que no raiano haja um instinto especial de percepção, ou senão o desenvolvimento desmesurado de todos os sentidos, o que lhe dá capacidade para enxergar mais longe que os outros homens, para ouvir e farejar antes que os mais o façam, e para presentir qualquer alteração no ambiente do povo que lhe demore em frente ou com o qual esteja em relação de qualquer espécie.

Nisso, talvez, a explicação para o rumo prático da ação de determinados estadistas, de ontem e de hoje, daqui mesmo e de algures, desconcertantes em regra porque aparentemente sem lógica, mas que acabam por se justificar por si mesmos ante o bom êxito de suas iniciativas e medidas.

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Quando nenhuma procedência haja na tese de serem os fronteiros homens com instinto peculiar e de serem as fronteiras zonas de diferenciação especialíssima, resta a sugestão inegável que uns e outras exercem sobre a nossa fantasia.

Fronteira! Moldura em que se enquadra a pátria; zona onde se esbatem as vibrações que vêm de fora e onde as ondas da trepidação interna se exaltam; região da qual partem as vanguardas dos exércitos e na qual as primeiras patrulhas do inimigo encontram resistência; linha de baluartes vivos que impedem a infiltração das ideologias exóticas, de credos que nos não pertençam, de expressões carentes de significado nos nossos sentimentos.

É na fronteira que tomba a primeira sentinela e é na fronteira que se ouve o derradeiro tiro de uma guerra. Nela a paz é armada; a vigília permanente; o repoiso precário; a estabilidade condicional. São os motivos principais das negociações entre os estadistas e embaixadores; dos estudos nos Estados Maiores; das cogitações nas

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