Fronteiras e fronteiros

conhecido trégua confortadora. Prepara-se para a guerra para não ter que se preparar em vista de uma guerra. Os melindres, por isso, tem-nos à flor da pele, eriçados sempre, sempre alertados, prontos para o despique que se fizer preciso, ao revide que se impuser.

Os símbolos da pátria, porque os vê ou ouve, vendo bandeira que não é a sua e hino que não lhe fala ao coração, merecem-lhe culto reverentissímo, tão reverente que parece excessivo ao homem do centro. Euclides da Cunha — homem do centro — quando se viu feito fronteiro, comissionado para explorar as nascentes do Purus, é que compreendeu a significação importante que as cores do pavilhão nacional exercem sobre a criatura. É conhecida, porque contada por ele mesmo, a cena do banquete que lhe ofereceram em plena floresta amazônica e no qual não colocaram a bandeira brasileira ao lado da bandeira peruana que panejava ovante no centro da mesa. Exaltaram-se-lhe os brios patrióticos ante o que lhe pareceu ofensa. Noutro qualquer sítio, que não na fronteira, não teria atentado para a falta, propositada ou não.

É que na fronteira, toda a gente, homem ou mulher, adolescente ou ancião, é esculca ou sentinela, guarda avançado ou cerra-fila, não importando o qualificativo do posto desde que exerça função na antemural humana que formam todos os fronteiros.

Daí a sugestão que despertam suas personalidades, em regra desbordantes da craveira que serve aos mediterrâneos. Forma-as o "meio"; desenvolve-as a necessidade de sobreviverem.

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A fronteira do Brasil, em qualquer latitude ou longitude, não foge à sugestão das dos outros países do Ocidente. Há nela qualquer coisa de romance. Sua própria evolução no curso de séculos é motivo de encantamento e de orgulho.

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