porque distanciados de qualquer das colônias europeias, o Brasil e a Venezuela, principalmente o Brasil que limita com as três, têm razões de sobra para não esquecer a proximidade e arrecear o atrito que não pode deixar de haver entre confinantes.
Na história da formação territorial do Brasil, aliás, as mais sérias investidas que sofreu sua linha de fronteira, partiram de duas das três Guianas: a francesa e a inglesa. Aquela invadindo o Amapá e esta o Pirara. Ambas visando estender domínio até à margem setentrional do rio Amazonas.
Com a Venezuela a avançada foi apenas da Grã-Bretanha rumo da margem direita do Orinoco.
Pretenderiam — quem sabe? — aglutinar toda a região limitada a nordeste e leste pelo Atlântico, ao sul pelo Amazonas e Negro, ao oeste pelo Casiquiare e Orinoco. Vastíssima Mesopotâmia com mais de dois milhões de quilômetros quadrados de área!
No que disse com a investida francesa sobre o Amapá foi possível fazer voltar à razão os estadistas do Quai d'Orsay, induzindo-os a submeter a arbitramento a questão que eles mesmo suscitaram.
Também a habilidade dos diplomatas brasileiros conseguiu que os estadistas ingleses submetessem o deslinde a juízo arbitral.
É que não temíamos a discussão dos nossos direitos diante de tribunal em que o Brasil ficasse em papel de igualdade com qualquer potência.
De qualquer forma vale recordar as duas graves questões, solucionadas ambas no começo do século em meio, não para discuti-las, o que seria bizantinismo, mas para não deixá-las esquecer, o que é salutar.
Foram investidas do imperialismo europeu à fronteira do Brasil, a qual não se rompeu mas teve de vergar em dois pontos, num deles voltando à posição normal, noutro formando um seio que não havia antes.