da terra cobiçada, e só não persistiu nele por ser o índio rebelde e, além disso, muito suscetível de contrair as moléstias comuns aos brancos. Viram-se, então, os portugueses, obrigados a suprir a deficiência do braço aborígine, com o trabalho escravo do negro, mandado buscar da África. Portugal, na época de suas conquistas, não contava senão com "trezentos mil adultos do sexo masculino", e "destes, um décimo, os mais vigorosos, os melhores, os mais destemidos, já seguiram para bordo e, desse décimo, nove décimos já pereceram no mar, em combates e em doenças"(9) Nota do Autor.
Vem desse déficit populacional a necessidade de explorar o trabalho escravo. Na sua ânsia de perpetuação, Portugal procurava desdobrar-se nos povos que subjugava, daí a promiscuidade sexual entre português e índio e, mais tarde, entre portugueses e pretos. Os primeiros povoadores do vale do São Francisco, cruzando com as nativas, numa época em que o elemento negro ainda não estava nas cogitações dos colonizadores lusos, criaram às margens do grande rio uma raça de mestiços fortes. Mesmo depois de iniciado o tráfico de negros para o Brasil, continuou sendo raro, no São Francisco, o elemento africano, mais utilizado nos engenhos do litoral e nas fazendas do Sul. A utilização generalizada do escravo negro encontraria as primeiras feitorias do São Francisco entregues a portugueses e mamelucos sem recursos para comprar os cativos de procedência africana daí o braço negro ter chegado lá com muito atraso e em proporções irrelevantes. Servindo de caminho para os homens de Garcia d'Ávila, Francisco Caldas e Antônio Guedes de Brito, o São Francisco, durante os primeiros séculos da devastação, foi o cadinho em que se fez a experiência racial que enriqueceu a nossa paisagem humana com o caibra-vaqueiro, exemplar magnífico de uma "raça de curibocas puros quase sem mescla de sangue africano"(10) Nota do Autor, sem dúvida o tipo mais rico em características pessoais entre os vários grupos raciais que vieram a surgir no Brasil. O sertanejo são-franciscano, com sua pele brônzea, seus olhos oblíquos, é o mais autêntico representante dos primeiros cruzamentos na terra recém-descoberta. É ele o mais velho exemplar humano no concerto das raças e sub-raças que povoam o país. Menos acessível à penetração das novas levas de estrangeiros, o São Francisco, nos últimos dois séculos, tem permanecido quase sem alteração no seu quadro racial. As velhas famílias portuguesas, que ali se radicaram,