casando entre si os seus descendentes, continuam quase as mesmas dos tempos dos senhores da Torre e da Ponte. As famílias plebeias, por sua vez, imitando o exemplo dos que eram considerados nobres, ou que pelo menos assim se presumiam, conservaram sua linha inicial, raramente se misturando com os adventícios. A menos que o recém-chegado seja rico, ou descenda de velhas e influentes famílias do Estado, não conseguirá casamento numas das antigas famílias da zona, mesmo nas de origens mais humildes. Os chamados nobres pelo sangue são poucos por lá. A nobreza, ali, é outra. A antiguidade é que dá nobreza, por aqueles ermos. Mesmo empobrecidas, as famílias da antiga burguesia rural, hoje tão decadente quanto a duvidosa aristocracia dos barões municipais dos dois impérios, não perdem o orgulho antigo. Os França Antunes, os Guerreiro, os Gonçalves, os Setúbal, os Borges de Medeiros, os Teixeira da Rocha, os Mariano, os Castelo, os Medrado, os Mariani, os Torres, são velhas árvores até hoje frondosas na genealogia beiradeira, e que têm suas raízes nas terras da ribeira do São Francisco. As grandes famílias proprietárias de terra descendem quase todas dos primeiros povoadores. Quem conhece o São Francisco se familiariza com os traços clássicos de sua "gente melhor", traços que lembram a fisionomia do português altaneiro da época das conquistas. Na margem do rio, nem tanto; mas, nas caatingas e brejos interiores, o próprio camponês anônimo e sem linhagem guarda os traços fisionômicos da gente antiga que povoou o vale. Nas cidades ribeirinhas ainda podem ser encontrados alguns negros. Nas aldeias do interior dos municípios, porém, o elemento negro é praticamente nulo. O camponês das caatingas distantes e dos brejos remotos é quase sempre branco, ou puxado a branco, cabelos avermelhados, nariz e lábios de construção maciça. Quando não é assim, é acaboclado, olhos oblíquos, lábios grossos, cabelos lisos, exibindo em tudo a predominância do sangue indígena.
Se o povoamento do vale foi feito lentamente, mais lentamente vem sendo feito o cruzamento dos velhos descendentes dos primeiros povoadores com os elementos novos de outras raças, que ali chegam do litoral. Os velhos troncos das antigas famílias resistem ao tempo. Uma raça forte, nascida, no dizer de Euclides, "de um amplexo feroz de vitoriosos e vencidos", isto é, do português dominador e do índio dominado, não quer abrir mão do direito secular de, ser a primeira no vale, de ter sob o seu poder a posse de todas as riquezas da terra. Daí a resistência ao cruzamento com outras raças, resistência hoje sutil, quase imperceptível, mas ainda ferrenha, inquebrantável. Uma família