O Médio São Francisco. Uma sociedade de pastores guerreiros

adventícia, se bem que em muitos casos nem o perceba, encontra ainda as maiores dificuldades para vencer numa das velhas cidades da margem do rio ou numa das aldeias interiores. Mesmo entre ribeirinhos, a ambiência não se modifica: se uma família de Remanso transferir sua residência para Barra do Rio Grande, por exemplo, embora lhe seja dispensado um tratamento lhano, condizente com os melhores preceitos da hospitalidade, o certo é que, independente da vontade dos da terra, uma prevenção vigilante, embora disfarçada, é estendida em volta dos recém-chegados. A localidade da ribeira onde, talvez, seja mais difícil a um adventício viver é Pilão Arcado, sem dúvida um dos mais antigos núcleos humanos do vale.

Na tenaz resistência a infiltração de elementos novos na sua vida, está o principal fator da conservação dos atributos ancestrais das sub-raças que ali se enquistaram, mas também pode ser surpreendido o motivo mais provável do seu atraso material. As velhas famílias, tanto as endinheiradas como as que vivem do trabalho do campo, desconfiando dos elementos de fora, vivem ensimesmadas, sofrendo sozinhas, sem dividir com ninguém tanto as glórias passadas como as dificuldades presentes. Como observou Euclides,

"fora longo traçar-lhe a evolução do caráter. Caldeadas a índole aventureira do colono e a impulsividade do indígena, tiveram, ulteriormente, o cultivo do próprio meio que lhes propiciou, pelo insulamento, a conservação dos atributos e hábitos avoengos, ligeiramente modificados apenas consoante às novas exigências da vida"(11) Nota do Autor

Seria proveitoso, para o futuro do vale, uma nova penetração, uma nova conquista do São Francisco, desta vez pelos próprios brasileiros. A escassez da população, a exiguidade de recursos financeiros, retardam ali a marcha do progresso. Urge atrair para o São Francisco novas famílias, braços fortes para o trabalho e capitais novos, dinheiro muito, nacional ou estrangeiro. Que novas bandeiras subam e desçam a correnteza barrenta, que novos bandeirantes rasguem as caatingas, pisando sobre os rastros inapagáveis dos Dias Adorno, Sebastião Álvares e Nunes Viana, que, levados por esta ou aquela ambição, ajudaram o Brasil a nascer e o fizeram crescer dentro de um mundo novo que surgia, sentindo nos músculos, como dizia o Poeta, a seiva do porvir.

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