a Coroa procurou inocular sangue novo nas capitanias, pondo em execução uma vasta política de doação de terras. Começam, com essas doações, os latifúndios, cuja formação marca o início da conquista do ermo.
A formação dos latifúndios, no Brasil, obedeceu assim a um imperativo de ordem administrativa. O domínio holandês atrasou por alguns anos, em Pernambuco, a política latifundista da Coroa, retardando por conseguinte o povoamento do vale. As concessões de sesmarias, nas margens do São Francisco, vinham sendo feitas muito antes de 1606, quando Tomé da Rocha Malheiro pediu, para si, terras ribeirinhas ao capitão-mor de Sergipe. Mas foi depois da expulsão de Nassau, a quem não passou despercebida a importância do São Francisco, que se incrementaram as doações de sesmarias no vale são-franciscano. Quando os holandeses foram expulsos, o São Francisco já contava com vários latifúndios em embrião, inclusive em Sento-Sé, Salitre, Pajeú, e Sobradinho. Os holandeses capitularam em 1658, e cinco anos depois o senhor da Casa da Ponte recebia, em carta datada de 27 de agosto de 1663, e assinada pelo soberano português, a doação de enorme extensão de terras à margem direita do São Francisco. As terras doadas a Antônio Guedes de Brito, senhor da Casa da Ponte, estendiam-se do Morro do Chapéu às nascentes do Rio das Velhas. O latifúndio da Casa da Ponte buscava as terras férteis e ricas de Minas Gerais. Enquanto isto, do outro lado do rio prosseguia a marcha ininterrupta de outro poderoso latifúndio. Era o da Casa da Torre, que demandava as terras do Piauí e Ceará. Foram essas duas poderosas casas, rivais entre si, que dirigiram a fase mais ativa da conquista e povoamento do vale. A Casa da Ponte, embora mais atrasada na sua obra de expansão, desde 1652, logo antes mesmo da expulsão dos holandeses, caminhava devorando terras, povoando desertos, construindo currais, conquistando o sertão, rumo ao São Francisco. A Casa da Torre, porém, segundo as crônicas da época, desde 1573 "emendava sesmarias", dominando as terras marginais do Jacuípe e do Itapicuru, e daí estendendo os seus domínios ao rio que os historiadores viriam a chamar de "o grande caminho da civilização"(13) Nota do Autor. É inegável a importância dos latifúndios no povoamento do São Francisco. Graças ao ativo latifundiário da Casa da Ponte, que, associado a um irmão do Padre Antônio Vieira, desbravou a margem direita até o Morro do Bom Jesus, onde é hoje a cidade de Lapa, aí fundando a fazenda