acesso a Goiás, Piauí e Minas. A expansão dos latifúndios trouxe, como era natural, a identificação dos povoadores com a natureza, transmudando-os de portugueses em brasileiros - brasileiros pela moradia, pela alimentação, pelos vestuários, pelos hábitos novos que iam adquirindo ou criando. Aqueles homens ávidos de terra, embrenhados no vale com as suas boiadas, perdiam inteiramente suas características de europeus, e a própria estrutura social que pretendiam transplantar de Portugal para a terra bárbara sofria a influência do meio geográfico. O ambiente que os cercava, poderoso e absorvente, terminou por imprimir características próprias, originais, aos agrupamentos humanos com que eles iam mosqueando o sertão. Portugal ficara na costa, caranguejando nos aldeamentos litorâneos, ouvindo os sermões de Vieira, cantando a missa na Sé. Ali, naquele mundo sem fim de águas barrentas e cachoeiras bravias, o que existia já era o Brasil, contraditório e violento, dando largas ao seu anseio de crescimento. O ajustamento daqueles homens de além-mar ao meio hostil constituiu mais um milagre dos muitos que, somados, redundariam no grande milagre conhecido como civilização brasileira. Dada a deficiência em material humano a que estava sujeito Portugal, e levando em conta mesmo a imprevidência portuguesa e a falta de planos para a colonização, somos levados a concluir que a conquista do Brasil e a ocupação efetiva do seu imenso território constituem um milagre impossível de ser explicado. O português, mesmo lentamente, realizou no Brasil, a despeito de sua pobreza de recursos materiais e humanos, o que os ingleses, com ouro em abundância e gente em superioridade numérica e em melhores condições físicas e morais, não conseguiram na América. É importante não esquecer o fato de os colonos portugueses aqui lutarem por sua própria conta e risco, quase sem nenhuma ajuda da Metrópole, que levou muito tempo a considerar a jovem colônia como um local de suplício para os de vida má. Quando se tiver que falar do português, na colonização do Brasil, deve ser com o máximo de cuidado, para não confundir os bravos e rudes desbravadores com a nefasta e inepta camarilha do Paço de Lisboa, coveiros das glórias de Portugal, mais tarde convertidos em autênticos sabotadores do progresso do Brasil. Durante séculos, esses politiqueiros da Corte escarneceram das possibilidades do Brasil como colônia produtiva e, quando se convenceram de que o país era rico, caíram-lhe em cima como abutres, para explorar suas riquezas naturais. Enquanto os rústicos colonos enterravam suas vidas no mato ingrato e feio, para dar vida a uma nação, os berloquins da Corte só pensavam no ouro