A consciência didática no pensamento pedagógico de Rui Barbosa

Aceito o legítimo princípio didático, o da aplicação do método experimental na escola, o curso secundário não poderá apresentar dois programas diferentes, um clássico e outro científico. Não podem ser dois ramos distintos, incomunicáveis, pois são dois todos que se interpenetram pela sua própria natureza e conteúdo.

Mas essa concepção moderníssima de Rui não chegou a empolgar a minoria conservadora dominante. Nenhum governo da República, como seria de se esperar, procurou objetivar essa orientação através da apresentação de planos orgânicos e funcionais capazes de colocar esse tipo de ensino secundário no lugar a que as condições sociais e econômicas do mundo moderno estão exigindo, avassaladoramente. Assim como para o ensino técnico e profissional do nosso meio, velho preconceito de nossa formação histórica e social, apresenta resistência ao seu desenvolvimento e ampliação, da mesma maneira a introdução e aumento de matérias científicas no curso secundário brasileiro sofreram, alternadamente, de 1930 para cá, oscilações com predominância das ideias de um "humanismo" estreito e anacrônico, comprometido com aquelas forças sociais desinteressadas em ver na educação uma forma de investimento para futura produção nacional, da mesma maneira que o desenvolvimento econômico é necessário para que a nação possa pagar escolas e professores. E essa solução não constitui cópia dos modelos educacionais mais velhos e caros da Europa ou dos Estados Unidos. Ao contrário, esse tipo de ensino médio representa o tipo de capital mais apropriado às necessidades de nosso país, pelo preço mais baixo. É uma forma de racionalizar a escola secundária brasileira, à luz das exigências do desenvolvimento nacional.

Algumas tímidas motivações, ora de origem oficial, ora de particulares, têm surgido nessa direção. Assim, as iniciativas semioficiais, como as do Instituto Brasileiro de Educação, Ciências e Cultura (IBECC), da UNESCO, vêm propiciando novo e promissor campo de trabalho e investigação didática no setor do ensino moderno das ciências naturais para a escola secundária, através de suas esplêndidas publicações didáticas; seus materiais de laboratório (kits), seus planos anuais de aperfeiçoamento pedagógico e científico por meio de cursos regionais onde professores secundários, auxiliados por mestres universitários nacionais e estrangeiros, se encarregam da experimentação de novos métodos de ensino de Biologia, Física e Química. O mesmo acontece na esfera do ensino das Matemáticas modernas.

A promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, permitindo a descentralização e a flexibilidade dos currículos

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