estava assentada basicamente na grande força dominante dos chefes, senhores de terras, na política local, nas oligarquias na política de províncias e, depois, no próprio poder monárquico estatal.
No processo da formação da civilização brasileira deste período histórico que antecedeu o nascimento de Rui, o País se preocupava, no dizer de Nelson Werneck Sodré(27) Nota do Autor, "em gerar o partidarismo político, criar condições para a escolha eleitoral, preencher os vazios deixados pela retirada dos mandatários da Coroa lusa", mas não tendo, ao mesmo tempo, condições para "repelir o que a herança colonial lhe transmitiu — o trabalho escravo, a grande propriedade territorial, a ausência de manifestação de pensamento, a pobreza da vida intelectual, o grande silêncio em torno das manifestações que distinguem e classificam", como acrescenta o lúcido ensaísta brasileiro.
Permanecidas as relações sociais internas da colônia, em nada tendo sido afetada a propriedade servil ou a propriedade territorial, o Brasil do Segundo Império se integraria no quadro da economia internacional, já agora assentado o triunfo da burguesia no amplo movimento da Revolução Industrial, em franco desenvolvimento.
A súbita valorização das profissões liberais, certas manifestações intelectuais, como o indianismo, o romantismo, o realismo em artes plásticas etc., a atuação dos magistrados, doutores, legisladores, quando não dos próprios homens de letras, não são mais do que características manifestações da intelectualidade representativa de uma sociedade de bases agrárias, cuja hegemonia econômica se assentava no trabalho servil. A intelectualidade brasileira não é mais do que porta-voz, no plano das atividades políticas, das aspirações, dos desejos da classe poderosa dos senhores proprietários de terra. Não existia ainda o conflito entre a cidade e o campo: manifestações esparsas de consciência de classe realmente surgiram com as revoltas Cabanada, Praieira e outras. A passagem da dominação cultural, política e social, em mãos de uma sociedade de tipo tradicional, agrária, para as mãos dos elementos de uma sociedade urbana, cosmopolita, vai apresentar características mais nítidas após a Guerra do Paraguai, quando então se delineará, de forma mais clara, a afirmação crescente do poder político e social de uma nova classe intermediária: a classe média brasileira.
Os sintomas mais radicais do pensamento desta nova classe, em gestação lenta, naquele momento histórico, seriam, inicialmente,