PREFÁCIO À 2ª EDIÇÃO
"Anúncios de compra, venda e aluguel de escravos, em que sempre figuram as palavras mucama, moleque, bonita peça, rapaz pardinho, rapariga de casa de família (as mulheres livres anunciavam-se como senhoras a fim de melhor se diferenciarem das escravas)... anúncios de negros fugidos acompanhados em muitos jornais da conhecida vinheta do negro descalço com a trouxa ao ombro, nos quais os escravos são descritos muitas vezes pelos sinais de castigos que sofrem... realmente não há documento antigo, preservado nos papiros egípcios ou, em caracteres góticos, nos pergaminhos da Idade Média, em que se revele uma ordem social mais afastada da civilização moderna..." Assim se refere Joaquim Nabuco, no seu O abolicionismo, àqueles anúncios sobre escravos em jornais brasileiros, alguns dos quais deve ter lido com olhos ainda de menino que estivesse aprendendo a ler na casa-grande de Massangana.
Há evidente exagero do quase sociólogo que foi Joaquim Nabuco em considerar tais anúncios revelação da "ordem social mais afastada da civilização moderna"; e essa ordem, a patriarcalmente brasileira, da qual ele próprio, Nabuco, naquela casa-grande e, porventura, noutras, das relações de sua madrinha, conheceu, além das crueldades, o lado benigno. Notavelmente benigno, até; e surpreendido por estrangeiros predispostos a só encontrar no Brasil escravocrático o regime de trabalho escravo por eles conhecido em outras partes do mundo.
O próprio Joaquim Nabuco, em Minha formação, destacando o lado benigno da escravidão no Brasil, recordaria crueldades da parte de senhores para com escravos. Crueldades que explicariam fugas de escravos menos à procura, em vários casos, de uma abstrata liberdade que de um bem-estar que, entretanto, estavam certos de encontrar em senhores diferentes dos seus. Exemplo: o próprio escravo jovem que Nabuco ainda menino viu chegar à