casa-grande de sua madrinha - em Massangana - fugido de senhor cruel e buscando o amparo de Dona Ana Rosa: querendo ser seu escravo.
Explica-se, assim, ter eu estreado em quase livro, escrito e publicado em língua inglesa como tese de mestrado na então insigne Universidade de Colúmbia - a Colúmbia dos Boas, dos Giddings, dos Seligmans, dos John Bassett Moore, dos Carlton Hayes, como mestres efetivos, e dos Sir Alfred Zimmern, de Oxford, e Haring, de Harvard, como "visiting professors" -, na qual, contra a lenda de uma escravidão do africano, no Brasil, sempre infernalmente cruel, opus toda uma série de testemunhos de estrangeiros idôneos no sentido de reconhecer-se aquela benignidade. Alguns até repudiando excessos de benignidade que testemunharam. Um deles registrando casos de escravos ociosos por serem tantos, em certas casas, que os senhores ou as senhoras não tinham o que lhes dar a fazer.
A verdade, porém, é que dos anúncios de escravos à venda ou que pudessem ser comprados ou alugados, em jornais brasileiros do século XIX, há uns tantos que revelam o que, na verdade, houve de cruel, em contraste com aquelas evidências de benignidade nas relações de não poucos senhores com seus escravos. A benignidade nas relações de senhores com escravos, no Brasil patriarcal, não é para ser admitida, é claro, senão em termos relativos. Senhor é sempre senhor.
Assim como estreei, na década de 20, com aquela tese - a de ter havido no Brasil escravocrático uma benignidade, da parte de senhores talvez mais caracteristicamente brasileiros que os cruéis, para com seus negros: benignidade por observadores estrangeiros não encontrada noutros países de senhores e escravos em plantações tropicais -, não tardei, na década seguinte, em aprofundar-me na análise de anúncios sobre os mesmos negros, escravos de senhores brasileiros. O que fiz dentro de um abrangente e mesmo panorâmico critério de estudo, através de anúncios de jornais, de aspectos os mais íntimos da ordem social brasileira nos dias patriarcais, e que me levou a considerar não só atitudes das classes dominantes para com pessoas de várias situações socioeconômicas e culturais e de várias origens ou condições étnicas, como também para com animais, plantas, coisas: vacas, cabras-bichos, móveis, alimentos, trajos, bebidas, brinquedos, chapéus, guarda-chuvas, sapatos, livros, pianos, veículos, palavras, imagens e símbolos religiosos.