História de um engenho do Recôncavo. Motoim – Novo Caboto – Freguesia; 1552-1944

cantando pelo picadeiro para despejar nas lanchas, que logo abriam panos e singravam irônicas para Santo Antônio dos Vargas e Aratu.

Em 1900, além dos pagamentos de carrear e velejar com canas para estas usinas, deparam-se numerosas verbas, que dizem com providências e preparos para receber e acomodar no sobrado - "meu amo" e "minh'ama", e toda aquela gente, e meninada, e criadagem, numerosa caravana que chegaria, numa tarde de chuva e rijo vento sul, para vir dar toques de outra vida e alacremente recordar antigos tempos, despertando o sobrado de uma longa modorra tristonha.

Não bastavam as obras costumeiras de conservação da casa de vivenda; havia mister prepará-la para morada e habitação dos patrões e sua grande tribo, que não daria, aliás, para encher sequer a terça parte daquela babilônia: - consertar e pintar portas e janelas, retelhar o sobrado, "recorrer" o telhado do sobrado, fazer o curral para tirar o leite, dar aguardente ao pessoal que lavou o sótão...

Os patrões deviam achar água fresca e uma refeição pronta: - dois purrões, moringa grande, moringas pequenas, água para as talhas e purrões; lenha para o sobrado, comida, temperos mandados comprar em Caboto. A cozinha era a antiga de trempes: - fazer seis trempes para o sobrado.

Cessam com a presença dos senhores os lançamentos de consertos e conservação da casa e das festas de igreja. Dois, porém (cortar capim para os cavalos, roçar as ruínas de São Roque em Caboto) recordam passeios e cavalhadas por aquelas fazendas e engenhos vizinhos - São João, Jacaracanga, Restinga, Quindu, Matoim e até a grande, imponentíssima e secular mangueira no topo do morro; ou até os altos da Boca do Rio, a ver a cidade alvejar ao longe ao sol poente, ou a Caboto, a contemplar as enormes ruínas do sobrado inacabado, que gera lendas na imaginação.

A festa da Piedade, naquele ano da passagem do século, deixaria larga e duradoura lembrança.

As novenas nunca tinham sido tão bem entoadas, nem a igreja se vira assim tão enfeitada de flores de papel, pano e folheta, armadas pelas "moças do sobrado". Veio da Cidade meia banda de música da Polícia. E num domingo de outubro o padre Lúcio Ornelas cantou missa, e até a tarde, quando desfilou a procissão, e à noite, quando se queimou o fogo de artifício, tudo ali foi movimento, regozijo e alegria.

No adro da capela e pelo relvado em frente ao sobrado havia barracas de rifas e sorteios, e "butecos" de gingibirra.

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