O ouro brasileiro e o comércio anglo-português. Uma contribuição aos estudos da economia atlântica no século XVIII

Sem querer participar da querela dos economistas, chamamos a atenção para o paralelismo entre o Kondratieff n.° 1 na Inglaterra e a economia aurífera brasileira.

Na Inglaterra, a flexão dos preços se dá entre 1733-43, e a tendência de alta persiste até 1815, apesar da depressão de 1772-87, que caracteriza a baixa do movimento longo Kondratieff n.° 1.

Cotejando este elemento com os nossos estudos, notamos que o ouro brasileiro começa a penetrar na economia inglesa, via comércio com Portugal, desde os primeiros anos do século XVIII. Este processo termina por barrar a recessão da baixa secular mercantilista (fase B) e estimula um período de expansão que já se enquadra na decolagem do movimento secular capitalista (fase A) e na alta do movimento longo Kondratieff n.° 1.

Os efeitos monetários fizeram-se sentir inicialmente quanto às cunhagens de ouro e de prata. No período de 1702-27, foram cunhados na Inglaterra 10.976.908 libras em ouro e apenas 750.512 libras em prata, o que levou Mertens e afirmar que na reforma de 1696 e na série de atos legislativos de 1696-1717 se encontra a origem primeira do monometalismo-ouro inglês. A valorização do ouro colocou realmente o país no padrão-ouro.(23) Nota do Autor

O aumento da cunhagem de ouro na Inglaterra e a fixação, em 1717, da relação ouro-prata, aumentaram a elasticidade monetária e permitiram a expansão econômica inglesa. Esta expansão se fez, sobretudo, graças aos estímulos sobre a exportação em geral, e em particular para Portugal. O aumento cada vez maior da demanda, principalmente dos mercados externos consumidores, provocou a alta dos lucros e dos preços, que no fundo é o próprio esquema do capitalismo.

O acúmulo de riqueza na Inglaterra terminou por gerar condições para as inovações técnicas. No bojo da crise do ouro brasileiro (1760-80) , crise esta que comanda a crise de 1772-87 (fase de baixa do movimento longo Kondratieff n.° 1), as inovações técnicas se processaram para explodir em seguida na Revolução Industrial.

Com estas coincidências de datas e de flutuações, podemos agora afirmar que o ouro brasileiro foi um elemento significativo para a economia do século XVIII.

Para o Brasil, seus efeitos foram muito mais conjunturais que estruturais. Realmente, a presença do metal precioso, num contexto colonial, seria incapaz de provocar alterações estruturais

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