que só seriam cabíveis numa outra configuração. Dessa forma, não vislumbramos nenhum processo ou acumulação de capital que poderiam se transformar em agente modificador de estrutura. Mesmo os primeiros esforços manufatureiros no Brasil, como aqueles referentes à tecelagem, foram anulados em função do protecionismo metropolitano. Reportamo-nos ao alvará de Maria I, proibindo as manufaturas de algodão.
Em compensação, as modificações conjunturais foram de importância capital. A conquista territorial, a implantação de vilas e povoados, o aumento demográfico e a abertura de rotas e vias de comunicação foram fatores decisivos para a evolução brasileira. Também o quadro social se alterou. A dualidade senhor de engenho-escravo, que presidiu a sociedade açucareira, começou a adquirir nuanças intermediárias. O mascate, o comerciante, o artesão, os profissionais liberais, enfim, os elementos de uma civilização urbana, começaram a criar uma sociedade autônoma com relação à sociedade agrária em que a cidade era extensão do campo. Neste novo processo, a cidade propiciou condições para a circulação de ideias, sobretudo através das sociedades secretas, que irão abalar o regime colonial.
Para a economia mundial, o ouro brasileiro adquire dimensão maior. Não somente como caudal enriquecedor do estoque monetário mundial, mas, sobretudo, como elemento permissivo de mudanças estruturais. Além de contribuir para a decolagem da economia mundial na tendência secular capitalista, foi também o agente do primeiro movimento típico da flutuação capitalista: o movimento longo Kondratieff n.° 1. A perfeita conexão entre a idade do ouro do Brasil e as transformações na economia inglesa possibilitaram o impulso do capitalismo industrial na Inglaterra.
Quando se iniciou o processo de redução na produção brasileira do ouro, logo em seguida refletiu-se na economia inglesa, através da baixa do movimento longo. Porém, o processo já desencadeado na Inglaterra propiciou as inovações técnicas que prolongarão, por mais alguns anos, a tendência de alta no movimento secular capitalista.
Enquanto o império português se debatia na crise proveniente da decadência das minas de ouro, a economia inglesa encontrava novo vigor na Revolução Industrial, que iria colocar outro produto brasileiro na pauta do comércio internacional: o algodão.