Pernambuco e as capitanias do Norte (1530-1630) – Volume III

maneira, pouco a pouco, conforme o crescimento das forças e capacidades, o jogo torna-se trabalho. Mas, nesse processo de evolução o limite entre o jogo e o trabalho não se faz sentir entre os indios. O trabalho não oprime como atividade extorquida. Conserva sempre como o jogo, o carater de ocupação desejada pelo proprio participante. E observando entre os índios um trabalho feito em comum, o apatxirú dos tapirapés, por exemplo, parece-nos que nele a alegria aumenta a força".

Bastariam as linhas finais do trecho acima para dar-nos em sua inteira eloquência a chave do total e insanável desentendimento que se estabelecia entre o gentio e os portugueses. O que era falta de método no índio, chamava o europeu preguiça. A irregularidade do comparecimento no eito causada pelo cansaço, tornava-se para o branco desobediência ou incapacidade. A falta de material que simplificasse a tarefa, e poupasse esforços, era para os civilizados produto de selvageria, e assim por diante. Outro mito de brancos antigos e modernos versa a imprevidência do índio. Entretanto, os tapirapés escondiam bananas no solo de distância em distância, entre as suas cabanas e o rio, que na descrição do Dr. Baldus versando a tribo que visitou, distava uns 40 quilômetros. O cálculo dividia perfeitamente os pousos na caminhada de volta da pescaria, ou qualquer outro trabalho, lá encontrando os trabalhadores alimento que lhes

Pernambuco e as capitanias do Norte (1530-1630) – Volume III  - Página 301 - Thumb Visualização
Formato
Texto