Pernambuco e as capitanias do Norte (1530-1630) – Volume III

a comida. O trabalho diurno dos homens é a pesca a colheita do mel e a caça. Acendem fogueiras na terra ligeiramente cavada, poem sobre elas as carnes, cobrem-n'as de areia e estas de brasas, de sorte que fiquem perfeitamente assadas em baixo e em cima. A bebida é feita com mel. O peixe das suas lagoas é tão enxundioso que não é preciso deitar-lhes gordura. Não semeiam, os tapuias, nem plantam sem incantações dos seus feiticeiros, que sopram o fumo do tabaco sobre os campos. Comem sem repugnância as cobras da espécie que chamam manuah. Os sacerdotes cortam membro a membro os cadáveres dos mortos da tribo. Cabe às velhas acenderem as fogueiras para assar os pedaços, e mais operações funerárias que decorrem entre lagrimas e lamentações. Depressa as terminam mas guardam mais tempo a sua dor. As mulheres comem as carnes e as raspas até os ossos, não em sinal de inimisade, mas de aféto e lembrança". Essa era a história do povo de Janduí, cacique que tivera cincoenta mulheres mas apenas sessenta filhos, habitantes de uma região abrangendo cinco rios "bastante longe do litoral".

O relato está inçado das fantasias, inevitáveis sob a pena de observadores antigos, e adornadas para mais, pela imaginação do poeta humanista, dos últimos da tradição clássica ilustrada por Erasmo de Roterdam. Julgamos, porém, dever transcrevê-lo, no item da alimentação do gentio, tal como se apresenta

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