de judaísmo, permitia a João Nunes dizer que nunca somos tão completamente traídos como pelos nossos próximos.

Os cristãos-velhos se mostravam menos odientos, declarando Lopo Soares, casado com Adriana Pessoa, "dos da governança desta terra", que indo visitar João Nunes o encontrara lendo um livro em latim, o Concilio Tridentino, e que lhe parecera pela atitude do usurário, não aprovar as determinações do sagrado congresso. Perguntado a seguir pelos inquisidores que juízo formava do réu, disse tê-lo por homem sagaz, sutil e de muito saber. Realmente os judeus da Renascença, quase sempre concentrados em judiarias, com a atividade cerceada pelos governos dos países em que moravam, tinham de passar às esposas não só o trabalho caseiro como o trato dos negócios, dedicando-se quase exclusivamente ao estudo do Talmud. Este modo de vida fez do judeu um intelectual, fisicamente inferior aos cristãos, porém muito mais armado do que eles quando escapava do gueto e podia livremente tomar parte na luta pela vida. Mostrava então a superioridade do elemento social em que não se via analfabetos, manifestando tendência para profissões que lhe davam grande poder pelo dinheiro ou convívio com os grandes da terra.

João Nunes talvez estivesse nessas condições, pela sua instrução e êxito em negócios. As acusações