contra ele dirigidas, no-lo pintam mais pequenino de ânimo, que perverso de caráter, sem querermos contudo inocentá-lo, pois a onzena é dos mais infames delitos que um indivíduo pode perpetrar. A um capitão de navio francês, que se desculpava de não haver comparecido no dia anterior para liquidar contas porque era domingo, atalhou o Shylock pernambucano, que para ele não havia nem domingos nem dias santos. De um seu devedor de Itamaracá, pelos modos relapso, "dixe que nem Deos lhe avia de valer", possuído de uma fúria cobradeira, que ao ser divulgada, tornava-o ainda mais aborrecido de todos. Praticava também uma temeridade ao descambar em tais excessos, porque a todos ofuscava com os seus cabedais, sendo este em realidade o seu maior crime. Os termos da denúncia de António André, que reproduz os dizeres do povo acerca de João Nunes, é significativo; consideravam-no "muito rico, com fama de possuir mais de duzentos mil cruzados!"
A antipatia dos desafetos não arrefeceu enquanto não o viram preso na cidade do Salvador pela inquisição, que ali o remeteu para os Estaus, de onde talvez se soubesse livrar, prático como estava neste gênero de vicissitudes. O que pudemos averiguar foi João Nunes nunca mais volver nem voltar a ser falado em Pernambuco. No Brasil permanecera um seu irmão, que tampouco gozava fama de santo. A primeira acusação que lhe fizeram