se dizia) e de brancos, que as tinham emprenhado provavelmente por "hua camisa ou qualquer cousa".
Essas denúncias também nos proporcionam outros lados da vida colonial, como os castigos que senhores desalmados do jaez de Diogo Nunes, infligiam aos escravos. Naquele tempo matar um pobre índio, martirizado e espoliado na sua própria terra por estrangeiros, era menos que o "arrenego os santos óleos" proferido num lance de mau humor perante testemunhas coscuvilheiras. Para o cristão-novo uma blasfêmia constituía delito muito mais grave, implicando sanções do Santo Ofício, e anátema ainda dos mais íntimos, que esfolar com o azorrague a uma legião de escravos. Declarou a propósito, Lopo Soares, ao ser interrogado acerca do incidente ocorrido com o índio, que viera a saber de "Adrião de Goes que ora está preso na cadeia pubrica desta villa... tendo... Diogo Nunes hum negro amarrado açoutando dixera que Jesu Xpo. lhe não avia de valer". Perguntado Lopo Soares pelo costume, isto é, em que termos estava com o denunciado, "dixe que elle he dos maiores amigos que os dittos Joam Nunes e Diogo Nunes tem nesta terra"...
A notícia de uma incursão do Santo Ofício em qualquer lugarejo, alvoroçava naturalmente os habitantes, pois anunciava o momento de vasculhar a memória e descarregar a consciência.