"Esse dever me fala ao espírito com a severidade dos deveres sagrados, que, preteridos pelos fracos, se guardam para a hora da conta, debruçando-se implacáveis à cabeceira dos agonizantes. Àqueles, por quem eu não pude, vivos, requerer o habeas corpus, isto é, a justiça, obrigam-me, mortos, a impetrá-lo de Deus para a minha consciência, do país para o seu governo, do mundo civilizado para a nossa terra, porque a nossa terra, o nosso governo, a nossa consciência estão comprometidos: a nossa terra seria indigna da civilização contemporânea, o nosso governo indigno do país, e a minha consciência indigna da presença de Deus, se esses meus clientes não tivessem um advogado. Nunca este recinto conteve auditório igual. Os mortos pululam por entre os vivos: inclinam-se daquelas galerias, apinham-se em torno deste anfiteatro, encostam-se às nossas cadeiras, não se vêem, mas se ouvem, se sentem, como que se palpam. Vêm das catingas do norte, dos campos devastados da guerra, das ruínas lavradas pelo fogo, dos destroços do petróleo e da dinamite; são desarmados, mulheres e crianças; mostram no colo o sulco da gravata sinistra; mutilados, eviscerados, carbonizados, estão dizendo: Falai por nós, voz da Bahia, voz da justiça, voz da verdade. Falai por nós, legisladores brasileiros, que falais por vossas almas, por vossos filhos. Temei a expiação, com que Deus pune o egoísmo insensível à causa dos mortos. As iniquidades que bradam nos céus recaem sobre a terra indiferente em chuva de iniqüidades. Separai a vossa sorte da sorte dos maus, ou a maldade será soberana, empestará o solo, e por mais de uma geração desencadeará sobre o povo o flagelo dos crimes que nos exterminam. Felizes os nossos companheiros, que morreram arrostando os leões; nós acabamos às garras das hienas. Somos as vítimas da boa-fé, a hecatombe da carniça."(1) Nota do Autor
Ainda duas afirmações de Rui: "raça talhada para competir com as mais fortes da terra" e, apontando para o poder público, salienta os "caprichos de suprimir pela força a vontade do país".(2) Nota do Autor
Claro é que temos de nos voltar para Os Sertões, obra-prima de Euclides da Cunha e da nossa literatura.
Embora com as marcas acentuadas do seu século e do seu meio, persiste a admiração pelo fino lavor literário, pela