INTRODUÇÃO
Sobem lentamente as águas na região de Cocorobó, na Bahia. Aos poucos vão inundando Canudos que, assim submersa, ficará apenas na história do Brasil.
A feliz e infeliz Belo Monte, uma das maiores cidades baianas no fim do século dezenove, não figura mais nos mapas. Com o seu fundador, Antônio Conselheiro, jaz no fundo da grande represa. Diríamos que é mais um açude, este agora enorme, com que ele brinda à sua gente.
Se é apenas a história que há de recordar Antônio Vicente Mendes Maciel, importa imergir naquelas águas todas as falsidades e distorções espalhadas, sem o menor espírito crítico, durante um século. A sua figura e a de todos os canudenses aparecerão em plena autenticidade, como realmente foram, purificadas naquelas águas lustrais, de todas as deformações propaladas pelos partidos políticos, pela meia-ciência, pelos propósitos inconfessáveis, pela forma literária imaginosa e sacrificadora da verdade. Reconhecemos que houve muita inconsciência em tudo isto. Mas as águas hão de tragar todas as desfigurações e fazer emergir a verdade para o juízo sereno dos pósteros.
O grande Rui, sentindo a injustiça, escreveu a primeira parte de um discurso para ser pronunciado no senado, logo após a terminação da guerra de Canudos. Esboçou, longamente, a parte final. Não sabemos porque não terminou a sua redação nem porque o não proferiu. Deixou-o, porém, bem guardado entre os seus papéis. Seria um dos pontos máximos da sua eloquência parlamentar e judiciária. Na verdade, andava ele afastado do senado e em luta política com os seus colegas.
Transcrevemos aqui um dos trechos da sua oração, justamente quando afirma que os canudenses mortos ali estão olhando os senadores, das galerias, do anfiteatro, por detrás de suas próprias poltronas.