Antônio Conselheiro e Canudos

estas verdades que devem convencer àquele que [564] concebeu a ideia da república, que é impotente o poder humano para acabar com a religião. O presidente da república, porém, movido pela incredulidade que tem atraído sobre ele toda sorte de ilusões, entende que pode governar o Brasil como se fora um monarca legitimamente constituído por Deus; tanta injustiça os católicos contemplam amargurados. Oh! Homem incrédulo, quanto pesa a tua incredulidade [565] diante de Deus! E, para fazê-la mais patente vejam o que diz Nosso Senhor Jesus Cristo (Mat., cap. 16, v. 16.). O que crê e for batizado será salvo, o que porém não crê será condenado. Parece-me que há homens que olham indiferentemente estas verdades; tirem o véu dos olhos, penetrando-se do profundo arrependimento de terdes concorrido para consumar a obra da iniquidade, que alguém deseja levar a efeito [566] sobre o título república. Todo poder legítimo é emanação da Onipotência eterna de Deus e está sujeito a uma regra, divina, tanto na ordem temporal como na espiritual, de sorte que, obedecendo ao pontífice, ao príncipe, ao pai, a quem é realmente ministro de Deus para o bem, a Deus só obedecemos. Feliz aquele que compreende esta celestial doutrina, livre da escravidão do erro e das paixões, dócil à voz de Deus [567] e da consciência, goza da verdadeira liberdade de Deus. É evidente que a república permanece sobre um princípio falso e dele não se pode tirar consequência legítima: Sustentar o contrário seria absurdo, espantoso e singularíssimo; porque, ainda que ela trouxesse o bem para o país, por si é má, porque vai de encontro à vontade de Deus, com manifesta ofensa de sua divina lei. Como podem conciliar-se a lei [568] divina e as humanas, tirando o direito de quem tem para dar a quem não tem? Quem não sabe que o digno príncipe o senhor Dom Pedro 3º tem poder legitimamente constituído por Deus para governar o Brasil? Quem não sabe que o seu digno avô o senhor Dom Pedro 2º, de saudosa memória, não obstante ter sido vítima de uma traição a ponto de ser lançado fora do seu governo, recebendo tão pesado golpe, que [569] prevalece o seu direito e, consequentemente, só sua real família tem poder para governar o Brasil? Negar estas verdades seria o mesmo que dizer que a aurora não

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