A figura verdadeira de Antônio Conselheiro
É bem diversa a figura realmente histórica de Antônio Conselheiro da outra que se criou à revelia dos documentos e demais fontes indispensáveis ao juízo crítico.
Até a própria iconografia se encarrega de deturpar-lhe a imagem. A única verdadeira representação gráfica do grande brasileiro é a fotografia tirada após a sua exumação. E esta mesmo pouco nos revela a seu respeito. Entretanto, em vida e depois de morto, artistas tão imaginosos quanto os escritores idealizam o seu retrato que só desfeia o peregrino para assim apresentá-lo à aversão de quantos querem conhecê-lo.
Ao cabo deste estudo não se deve mais permanecer no desprezo das fontes históricas. Não só é erro, mas ainda injustiça à sua memória. Demais, importa restaurar uma página da história do Brasil, corrigindo-lhe os erros, e satisfazer àquele apelo do ínclito Machado de Assis, durante a guerra, quando sugere que algum repórter vá a Canudos e traga de lá fotografias, se possível, desenhos, informação segura. Hoje o historiador é que é o repórter.
Antônio Conselheiro foi grande homem, grande chefe, grande benfeitor. Soube agir com discernimento e descortino.
Pelo perfeito conhecimento do sertão baiano escolhe a fazenda abandonada de Canudos. Nela reúne as famílias que o acompanham nas numerosas construções e que não ficaram no Bom Jesus. Novas levas vêm agregar-se-lhe ao saberem do gênero de vida que levam os canudenses, a organização do trabalho, a ordem reinante, a paz tão almejada pela Bahia convulsa.
Pelo perfeito conhecimento dos políticos, isola Belo Monte da politicalha e do abuso de soldados, de chefetes e de magistrados maquiavélicos.
Pelo perfeito conhecimento da religião, afasta o seu povo de crendices, beatices e do ateísmo.
Leia-se o juízo que recolhe no próprio palco dos derradeiros acontecimentos o ex-correspondente do Jornal do Comércio.(68) Nota do Autor