Narremos os fatos.
Entre as primeiras edificações solidamente levantadas em Canudos e cobertas de telhas estava a igreja, obra de experimentado arquiteto em tais construções, Antônio Conselheiro.
Com o rápido e considerável aumento da população já não abriga o grande número de fiéis que para ali afluem. No outro extremo da praça constrói-se novo templo, assim descrito por Euclides da Cunha: "Era retangular e vasto e pesado. As paredes-mestres espessas, recordavam muralhas de reduto. Durante muito tempo teria esta feição anômala, antes que as duas torres muito altas, com ousadias de um gótico rude e imperfeito, o transfigurassem".(42) Nota do Autor "Delineara-a o próprio Conselheiro. Velho arquiteto de igrejas, requintara no monumento que lhe cerraria a carreira."(43) Nota do Autor A seguir, moteja da obra.
Encomenda toda a madeira para o telhado da igreja na cidade de Juazeiro, na Bahia, como o fizera de outra feita, em que fora despachada pelo rio de São Francisco abaixo, até Jacaré. Este local dista cem quilômetros de Juazeiro. Ali o Conselheiro espera a madeira, carregada daí até o arraial à cabeça dos canudenses.
Quanto a esta nova compra, espalha-se o boato de que o Conselheiro iria pessoalmente escolher a madeira.
"E como sucede com quase todos os boatos, este se foi avolumando de momento a momento, de modo que, dentro em pouco, a notícia se tinha transformado numa ameaça tremenda."(44) Nota do Autor
"Antônio Conselheiro iria invadir a cidade, ordenaria o saque geral ao comércio. Em seguida, tiraria vingança cabal do juiz de direito da comarca em virtude de fatos anteriores, acontecidos em outra comarca."
Na verdade o que havia era o seguinte: ao saber que, embora paga não era despachada a madeira por falta de quem a transportasse, o Conselheiro mandara avisar que iria buscá-la com a sua gente. Esta versão é mais plausível, mas também dava azo aos mesmos boatos tenebrosos.
Diz Aristides Milton que o coronel João Evangelista Pereira de Melo, comprador da madeira para Canudos e "outros cidadãos qualificados de Juazeiro não acreditavam nos boatos, que por toda parte circulavam".(45) Nota do Autor