Antônio Conselheiro e Canudos

O certo é que o Dr. Arlindo Leoni, jovem juiz de direito de Juazeiro, precipitada e levianamente telegrafa ao governador da Bahia, a 29 de outubro de 1896, requisitando "enérgicas providências".

Agindo com prudência, o governador Luís Viana responde muito bem que "não podia mover força induzido por simples boatos".

Poucos dias depois, novo telegrama do Dr. Arlindo Leoni (4 de novembro), afirmando que "os bandidos" saíram de Canudos na véspera, em número de mil homens. "Pedro Serafim, que fora esperar os canudenses, nega intenções perversas, limitando-se à condução das tábuas.". E termina o juiz: "Desânimo domina a população, apreensiva da possibilidade de invasão, antes da chegada de força".

Salienta Aristides Milton: "Das próprias palavras do telegrama se vê que o coronel João Evangelista parecia estar com a verdade, quando contestava o propósito sinistro, geralmente atribuído ao Conselheiro".(46) Nota do Autor

Mas o governador estava longe e tinha o dever de acreditar no segundo telegrama da autoridade judiciária. Nem sabia que o juiz era faccioso, arrebatado e agia por medo infundado.

É enviada a força de cem praças do exército, sob o comando do tenente Pires Ferreira, mas com a ordem de ir ao encontro dos canudenses, "a fim de evitar que eles invadissem a cidade". O comandante deveria proceder de acordo com o juiz de direito da comarca.(47) Nota do Autor Tudo isto deturpa o que havia de ser feito e é o primeiro erro grave.

A 19 de novembro de 1896 a força acampa no arraial de Uauá, a 114 quilômetros de Canudos.

Tinham certeza de que a gente de Canudos vinha chegando àquele povoado, pois o Conselheiro, quando comunicou que iria buscar a madeira, marcou a data da partida.

Narra o próprio Euclides da Cunha que na madrugada de 21 se desenha no extremo da várzea o agrupamento dos canudenses. Um coro longínquo se faz ouvir, cantando os Kyries "em toada vagarosa, rezando. Parecia uma procissão de penitência... chegavam com o dia e anunciavam-se de longe".(48) Nota do Autor

"Mas não tinham, ao primeiro lance de vistas, aparências guerreiras. Guiavam-nos símbolos de paz: a bandeira do Divino"

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