QUEBRA-QUILOS
LUTAS SOCIAIS NO OUTONO DO IMPÉRIO
Este livro é uma demonstração de que a História do Brasil está realmente por ser feita. Episódios como o constante deste estudo - cujas repercussões não se podem negar - afloram apenas ligeiramente em nossos compêndios. Alguns nem sequer aludem a ele. Sua implicação com a Questão Religiosa e a demonstração do espírito desconfiado do sertanejo em relação às "novidades" que poderiam agravar sua dura existência apresentam matéria para ampla reflexão aos estudiosos de nosso caráter.
O Autor não teve, para guiar-lhe as pesquisas, nenhum trabalho precursor. Pesquisou essencialmente nas fontes da imprensa contemporânea e na tradição popular. Note-se uma tendência acentuada da irritada população em destruir os cartórios e arquivos, onde, certamente, seriam encontrados elementos preciosos para o desdobramento do tema.
Não fosse o autor forrado, como é, de larga preparação para o conhecimento da psicologia popular, e capaz de fazer paralelo com os movimentos semelhantes, não teria sido possível fazer a ressurreição de fatos tão graves, ocorridos em época relativamente recente.
É muito provável que, despertados pelo zelo e critério deste ensaio, outros trabalhos acerca de episódio de tamanho interesse venham a aparecer.
A violência da repressão só fez agravar a situação. Despertou, em espíritos indisciplinados, os instintos de perversidade. Aproveitaram-se alguns para roubar e matar. Uma onda de banditismo espraiou-se pelo sertão do nordeste. Naturalmente, os poderosos valeram-se da oportunidade para livrar-se de desafetos. E, como entre os rebeldes houvesse escravos, um dos castigos largamente aplicados foi a chibata, então muito em uso na punição dos cativos.
Note-se que a lei de adoção do sistema métrico decimal era de 26 de junho de 1862. Apesar de só ter sido posta em execução dez anos depois, não foi possível evitar a reação.
A. J. L.