1. INTRODUÇÃO
Histórica e sociologicamente o movimento Quebra-quilos poderia ser classificado como uma forma primitiva ou arcaica de agitação social. Em algumas cidades é mais do que um tumulto e menos que uma revolta, noutras é uma revolta quase articulada, onde se nota interferência de juízes ou padres e reflexos da dicotomia partidária imperial. Na sua dimensão maior corresponde a uma crise ora contestada ora reconhecida pelos economistas dos fins do século XIX, como também pelo próprio governo.
Este ensaio não tem a pretensão de esgotar o assunto, não obstante as pesquisas, o tanto quanto possível completas, realizadas na imprensa da época, e a consulta metódica da documentação existente nos arquivos brasileiros. A história dos movimentos sociais no Brasil está constituída de uma série de episódios mais ou menos isolados pela historiografia nacional, que, com raras exceções, pouco tem conseguido no sentido de estabelecer as relações precisas das interrupções da estática social, com esquema epistemológico seguro. Talvez não se consiga neste trabalho o desejável avanço nesse setor. O leitor saberá julgar. O que se pretende, sobretudo, além da revelação de fatos e documentos novos sobre este centenário e pouco conhecido movimento social brasileiro, é demonstrar que não é fenômeno isolado; não apenas paraibano ou pernambucano. Suas raízes estão espalhadas numa vasta área geográfica que compreende quase todo o Nordeste. Seus motivos, suas razões são, de certa forma, nacionais, na medida em que representam resultantes de toda uma estrutura em vias de transformação. Os homens que fizeram a turba, a revolta e a sedição do Quebra-quilos perdem-se muitas vezes no anonimato dos analfabetos e suas lideranças dividem-se e não são compreendidas mesmo quando manifestam suas ideias. Correspondem, provavelmente, àqueles tipos humanos que Hobsbawn classificou de pré-políticos por não terem ainda uma