1. A METÁFORA DRAMATÚRGICA
O conceito de papel em ciência social é baseado na ideia de que a vida é como um teatro. Essa ideia remonta pelo menos até os gregos, mas teve forma memorável com Shakespeare:
"All the world's a stage,
And all the men and women merely players:
They have their exits and their entrances
And one man in his time plays many parts".(*) Nota do Autor
"A metáfora de Shakespeare", escreve o sociólogo Ralf Dahrendorf, "tornou-se o princípio central da ciência da sociedade" (1968: 30). Certamente a cultura de cada sociedade fornece o texto que define os direitos e obrigações de "todos os homens e mulheres", enquanto as "várias partes" de cada ator permitem-lhe adaptar sua conduta à do resto do elenco conferindo-lhe, assim, uma posição no drama maior. O impacto desta posição na moderna antropologia social pode ser avaliado contemplando-se o índice de uma etnografia típica. Os capítulos padronizados sobre parentesco, casamento e divisão do trabalho são normalmente descrições de papéis de parentes consanguíneos, maridos e esposas, velhos e moços, homens e mulheres: o conceito de papel é o quadro de referência para apresentar os dados antropológicos.
As definições de papéis sociais que influenciam os antropólogos (especialmente as de Linton 1936, Nadel 1957 e Banton 1965) são normativas. Um papel é uma parte da cultura que prescreve regras para conviver com os outros, um conjunto de obrigações e privilégios ou direitos e deveres reconhecidos pelos membros da comunidade. A tarefa do etnógrafo é descrever os termos dos contratos e a extensão em que eles são respeitados.