Mihináku: o drama da vida diária em uma aldeia do Alto Xingu

homem de empresa que recebe honorários. Haveria artifícios dramáticos e especiais que pudessem reconciliar papéis tão contraditórios?

A força da metáfora dramatúrgica é que ela pode abrir para a pesquisa caminhos não previstos pelas abordagens tradicionais da antropologia social. Há um perigo, entretanto, que é a tentação de esquecer que a vida-como-teatro é uma analogia, não uma homologia. A terminologia do teatro é tão adequada para descrever a condição humana que o analista pode ser facilmente levado por ela, especialmente se os seus sujeitos pertencem a uma cultura cujas convenções dramáticas são diferentes da sua própria. O estabelecimento dos limites da metáfora dirá onde a analogia falha e dará uma ideia do que será razoável esperar conseguir aplicando-a a uma sociedade como a mehináku. Comecemos por examinar como são definidas as relações, tanto na vida real como no palco.

A menos que seja observada através da lente organizadora da cultura, a realidade é caótica e ocasional. Um milhar de rosas é constituído por mil rosas que diferem de mil maneiras, mas nós compartilhamos de uma base cognitiva comum capaz de classificá-las todas como "rosas". Paralelamente, nossa cultura nos proporciona uma maneira de organizar a experiência social. Um grupo de pessoas sentadas em torno de uma mesa pode ser um júri em deliberação, um seminário em curso ou uma reunião do gabinete presidencial; o que possa ser dependerá não somente dos fatos em questão, mas também do ponto de vista dos participantes. Transformar a reunião de uma espécie para outra poderá ser difícil para os participantes, embora todos nós já tenhamos tomado parte em seminários que gradualmente se tornam reuniões sociais, e tenhamos lido transcrições de reuniões presidenciais que degeneram em conspirações criminosas. A definição da situação social depende, então, do consenso, normalmente tácito, dos que dela participam.

"Os seres humanos interpretam ou "definem" as ações dos outros em vez de simplesmente reagir a elas. Sua "resposta" não é dada diretamente às ações de outrem, mas é baseada no significado que se atribui a tais ações. Portanto, a interação humana é mediada pelo uso de símbolos, pela interpretação ou pela determinação do significado da ação de outrem. A mediação é equivalente à inserção de um processo entre o estímulo e a resposta". (Blumer 1967: 139.)

Definir a situação nos torna capazes de tratar de um grande número de realidades, cada uma das quais construída a partir de

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