um consenso que é ratificado pela linguagem e pelo comportamento, e reforçado pelas características do cenário. Vistas em conjunto, essas convenções revelam a definição da situação e os papéis dos atores.
Se a realidade é uma construção mais social que absoluta, podemos abordar o contraste entre o teatro e a vida cotidiana a partir da perspectiva de como ambos definem a situação e estabelecem, para o observador, o sentido da realidade ou autenticidade.
O teatro cria uma realidade própria, embora essa realidade esteja baseada em um artifício consciente. A representação se dá em uma sala desprovida de parede e de teto e é realizada por personagens que falam com clareza afetada. O notável em relação a tais convenções dramáticas é que elas funcionam. As plateias parecem ter uma extraordinária capacidade "de empolgar-se com uma transcrição que se afasta radical e substancialmente de um original concebível" (Goffman, 1974: 145).
Uma experiência realizada por Harold Garfinkel sugere que na vida real, tanto quanto no teatro, somos forçados a aceitar e participar da definição de uma situação social, por mais estranha que ela possa parecer. Nessa experiência, vários estudantes relatavam um problema pessoal sério para um conselheiro oculto e depois faziam uma pergunta para a qual a resposta seria sim ou não. Muito embora as respostas dadas pelos conselheiros fossem escolhidas ao acaso e muitas vezes desprovidas de sentido ou contraditórias, os estudantes empenharam-se seriamente em dar sentido ao despropósito: "As respostas dadas... tiveram um grande significado para mim. Quero dizer, com isso, que seria talvez o que eu teria esperado de alguém que compreendesse realmente a situação" (1967: 85).
A experiência de Garfinkel ilustra que, como o público no teatro, estamos propensos a conferir autenticidade e significado às situações sociais mais debilmente elaboradas. Na vida cotidiana, como no teatro, somos obrigados a focalizar ou concentrar nossa atenção na situação que está sendo apresentada e a ignorar qualquer coisa que não apoie a realidade presumida. Por isso, ficamos tranquilos diante de cenários que não sejam abertamente discrepantes, desejosos de esquecer, durante o decorrer de uma consulta por exemplo, o quanto detestamos o gosto do nosso médico em matéria de móveis ou de política.