habitantes da aldeia uma pequena reserva de alimento para o curso do ano. Embora a mandioca plantada nas roças de outubro não esteja crescida até os próximos seis meses, os índios podem fazer a colheita de outras roças que estejam produzindo nesta época. Além do que, eles se podem valer das reservas de farinha de mandioca armazenadas durante a estação seca anterior.
Muitos observadores da vida econômica do Xingu ficaram impressionados por sua aparente abundância (Oberg, 1953: 1). Ela é, aparentemente, tanta que os índios podem dar-se ao luxo de considerar tabu muitos dos animais de caça, inclusive o veado, o porco-do-mato, a anta e a paca. Os únicos animais que eles comem são peixes, aves e macacos. Mesmo o peixe, principal fonte de proteína da dieta do Xingu, não é tão avidamente procurado quanto poderia ser. Descobri, a partir de registros de expedições de pesca realizadas no decorrer do ano, que os mehináku pescam, o mais das vezes, quando as chances de trazer para casa uma grande pesca são maiores. Durante a estação das chuvas, quando a pesca, embora menos compensadora, ainda pode dar bons resultados, todos tendem a ficar em casa e a resmungar pela falta de peixe.
A bacia do Xingu é, de fato, uma área de abundância relativa, mas é preciso reconhecer que tanto o ambiente quanto uma tecnologia simples limitam significativamente a produção de alimentos. Os lavradores do Xingu cultivam a coivara, cujas roças produzem bem durante três ou quatro anos, mas depois são inteiramente sufocadas por ervas daninhas ou abandonadas em busca de solos mais novos. Finalmente, a terra de floresta disponível mais próxima esgota-se e, então, os habitantes da aldeia arrumam suas coisas e se mudam para outro lugar.
Em um importante artigo, Robert Carneiro (1956) propõe um elegante modelo matemático desse sistema, no qual mostra que uma das tribos do alto Xingu, os kuikúro, poderia produzir muito mais alimento do que produz e ter uma população muito maior do que aquela que ainda vive na mesma localidade. Acredito que, em condições favoráveis, os mehináku também poderiam ter uma aldeia permanente; mas até agora sua experiência, tem sido totalmente outra.
Grande parte da área que circunda a aldeia mehináku (e muitas outras aldeias do Xingu) não é adequada para a agricultura. É inundada pelos rios durante a estação chuvosa, e uma parte dela é permanentemente alagadiça. Quase a metade dessas terras