Mihináku: o drama da vida diária em uma aldeia do Alto Xingu

primeiro europeu a deixar um registro escrito de sua entrada na área, Meyer (1897), Schmidt (1942) e Petrullo (1932). Mais recentemente, Oberg (1953), Murphy e Quain (1955), Carneiro (1957), Basso (1973) e Zarur (1975) descreveram os awetí, kamayurá, trumái, kuikúro e kalapálo, enquanto Harald Schultz (1965) e os Villas Boas (1970) descreveram a cultura do Xingu e fizeram coleções de mitos dos Waurá e de outras tribos da região. Além desses livros e monografias temos um grande número de artigos relativos a vários aspectos da vida no Xingu; e, entre eles, o importante artigo comparativo de Galvão (1953) que identifica a área cultural do alto Xingu; o exame da distribuição da população feito por Lima (1955) e os estudos de Carneiro sobre ecologia (1956, 1961) e sobre o comportamento sexual (1958) dos kuikúro; as publicações de Dole sobre a história da cultura do Xingu (1962) e a organização social dos kuikúro (1958, 1964, 1966); as pesquisas de Freikel e Simões (1965) e de Junqueira (1973) sobre a mudança cultural e a influência da civilização brasileira.

Não obstante todo esse trabalho, há ainda muito que aprender a respeito dos índios do Xingu. Boa parte do material mais antigo acima mencionado é constituída por informação anedótica, listas de vocabulário e descrições de cultura material. Alguns de meus artigos (1970, 1973, 1974) contribuíram para familiarizar os leitores com os mehináku que, entretanto, continuam quase desconhecidos na literatura etnográfica. Embora este estudo se pretenda uma tentativa de abordagem teórica mais que uma etnografia geral ou comparada, tentarei fornecer pormenores suficientes tanto para o especialista como para o cientista social que tenha um amplo círculo de interesses.

História, mudança cultural e a atual comunidade

Os mehináku não são historiadores e não mantêm registros. No espaço de quatro ou cinco gerações, o passado começa a se desvanecer no tempo mítico. Segundo o que contam os homens mais velhos, os mehináku vivem entre os rios Tuatuari e Culiseu [Coliseu] desde o tempo da criação. Muitas vezes mudaram a localização da aldeia por motivo de subsistência ou de guerra, mas nunca moraram fora da região onde atualmente vivem.

Os primeiros registros que temos, acerca do contato dos mehináku com o mundo exterior, são os das visitas de von den

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