Mihináku: o drama da vida diária em uma aldeia do Alto Xingu

Steinen à tribo, em 1887. Atualmente, os mehináku evocam seu primeiro contato com um homem branco (embora este, talvez, não seja von den Steinen) da seguinte maneira:

"Todos estavam com muito medo e se refugiaram na floresta, deixando só os melhores arqueiros na aldeia. Quando o Kajaíba (branco) chegou, deu a todos muitos presentes, e os arqueiros chamaram de volta os que estavam na floresta. As mocinhas cobriram o corpo com cinzas, para ficarem pouco atraentes e não serem raptadas pelo Kajaíba. As pessoas ganharam facas, mas não as compreenderam, e cortaram os braços e as pernas na tentativa de ver para que serviam aquelas coisas novas."

Naquele, tempo os mehináku viviam em duas aldeias. Mais tarde, sérias epidemias de sarampo e gripe reduziram-nos a tal ponto que eles foram forçados a se unir. Os atuais mehináku descendem dos habitantes das antigas aldeias, aos quais se somam uns poucos refugiados de tribos Aruák, hoje extintas, chamadas Yanapuhu e Kutanapu. Atualmente, só uns poucos habitantes conservam a lembrança de que ancestrais vieram de tais aldeias, embora um dos mehináku mais velhos se lembre de sua infância entre os Yanapuhu. Hoje em dia, as diferenças sociais e linguísticas entre os três grupos são muito insignificantes.

Contato com a civilização brasileira

Os resultados mais visíveis do contato dos índios com os de fora foram a introdução de objetos de aço e o despovoamento. As ferramentas de aço mudaram a vida do Xingu de maneira discreta, sem alterá-la basicamente. Carneiro (1957: 111) afirma que agora os homens dispõem de muito mais lazer que no passado, porque os machados de aço podem abrir roças muito mais depressa do que o faziam os de pedra. Entretanto, o preparo da mandioca, realizado pelas mulheres, não se tornou mais eficiente com as ferramentas de aço e exige, ainda, muitas horas diárias de trabalho penoso.

O despovoamento também alterou a cultura do Xingu. Calcula-se que, quando von den Steinen visitou o Xingu, em fins do século passado havia cerca de três mil índios morando na bacia do alto Xingu (Lévi-Strauss, 1948: 326). Hoje em dia há, aproximadamente, setecentos. Com a queda do nível populacional, as aldeias se consolidaram a ponto de as relações entre e dentro das comunidades persistirem, em grande parte, tais quais eram em

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