Leonardo Villas Boas. Em junho de 1976 havia setenta e sete índios morando nas seis casas de aldeia. Desses, setenta e três eram mehináku; os demais eram índios que se casaram na tribo. Embora atingida por epidemias de sarampo e gripe, a população mehináku entrou em curva ascendente e, sem dúvida, já começou a voltar ao nível normal. Durante os últimos dez anos, somente três adultos tiveram morte natural; dois outros foram mortos como feiticeiros. No mesmo período, nasceram vinte crianças. Como esses dados sugerem, a população é jovem; mais de metade da tribo tem menos de dezoito anos de idade.
Excetuados os maus augúrios sobre o futuro, o moral da aldeia é bom. Atividades grupais, como cerimônias e projetos de trabalho, ocorrem praticamente todos os dias. As casas são mantidas em bom estado, a praça central é frequentemente capinada e os principais acessos ao rio e às áreas de pesca são regularmente limpos e alargados.
A rotina diária começa cedo, todas as manhãs, cerca de uma hora antes de o sol nascer. Os mehináku começam a acordar e a aproximar-se do fogo. Ao clarear, vão banhar-se no rio. Na volta, pequenos grupos de mulheres vão trabalhar nas roças, antes de o dia esquentar. Voltam lá pelas dez horas, carregando grandes cestas de mandioca na cabeça; passarão parte do dia preparando a mandioca para fazer farinha, parando apenas para tomar conta das crianças e preparar as refeições. Cumprem o mesmo programa quase todos os dias, especialmente na estação da seca, quando trabalham infatigavelmente para acumular um grande excedente de farinha.
A rotina diária dos homens é muito mais variada que a das mulheres. Liberados de grande parte do trabalho da roça pela eficiência das ferramentas de aço, passam grande parte do dia caçando macacos e pássaros, pescando, andando pela floresta à procura de raízes medicinais, tocando flauta na "casa dos homens", fabricando os arcos e flechas, as canoas, e descansando em suas redes. Na medida em que organizam seus programas, saem em grupos de dois para breves excursões matinais de pesca; voltam ao meio-dia para uma refeição de peixe e beiju.
Nos dias bonitos, o entardecer é a hora de lutar. Os homens reúnem-se na frente da "casa dos homens", no centro da aldeia, e esfregam o corpo com carvão e uma tinta vermelha feita de urucu (Bixa orellana). Então, enquanto as mulheres observam do interior das casas, trocam-se os desafios e as partidas começam. Regras