O artista Debret e o Brasil

as intermináveis descrições de ambientes, natureza e personagens românticos, como George Sand, ou realistas, como Balzac, e mais ainda Walter Scott, na Grã-Bretanha, e Schiller, na Alemanha, podendo figurar a novela nas Histoires italiennes se possuísse o nervo e a expressão ática stendalianas.

A terceira parte do Voyage apareceu com algum atraso em plena agitação, no fim do reinado de Luís Filipe. A despeito das precauções do soberano, da sua aproximação com a esquerda e do bonapartismo, estouravam violentos distúrbios, insuflados por subversivos, como Barbés, Bernard e Blanqui, os quais, com os seus excessos, acenavam possível restauração bonapartista, surgida à guisa de salvação pública. Debret era dos que assim pensavam, com alguma satisfação, apesar de o meio parisiense mostrar-se cada vez mais desfavorável, na desordem reinante, a publicações destinadas a instruir burgueses que a si mesmos designavam como sendo condecorados e ignorantes de geografia. No desenho e colorido, Debret também afastou-se do que aprendera na França e Itália, mudança efetuada sob influxo do cenário onde se deteve por 15 anos, diversas as cores da Guanabara, vistas em grande parte dos dias através de atmosfera carregada de umidade. Certa vez, fora acoimado em França por um crítico de aparentar traço pouco maleável e cheio de arestas, o qual reconhecia, porém, que era "soucieux de la vérité", virtude da maior valia para quem desejava reproduzir, no velho continente, o que admirara no trópico.

Merecia melhor sorte a gigantesco trabalho de Jean Baptiste Debret pelo seu talento descritivo, "peintre de genre", às vezes tinto de humorismo em cenas como a das "Venus Noires", publicada por Robert Heymann, em que o escuro mulherio carioca confabula com apatacados reinóis. Igualmente divertidos são os desembargadores apeando de seges com dificuldade por causa dos achaques ao chegar à porta do tribunal. Não menos apreciável o archeiro da Real Casa, acompanhado por escrava que, através do Terreiro do Paço, carregava-lhe os pertences das funções, repetida a ironia parisiense

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