O artista Debret e o Brasil

na interpretação dos costumes luso-cariocas, tanto nos interiores de residências como no cais do porto, onde o pequeno burguês se juntava para comentar acontecimentos.

Os desenhos e comentários do Voyage proporcionam notável subsídio acerca de como vivia a população da capital do Reino Unido e começo do império. Nada esqueciam, nem dos dirigentes nem da classe abastada, faina a que se consagrou Debret, logrando inestimável resultado, digno de louvor, acima de nugas de somenos. Escaparam os originais das ilustrações destruídas cem anos depois de impressas com o texto, razão da raridade do Voyage pittoresque, que muito nos intrigava. Indagamos a propósito, nas idas à Paris, a livreiros antiquários explicações acerca da anomalia e, casualmente, soubemos, pelo "americanista" Chadenat, o qual em illo tempore servira o barão do Rio Branco na questão de limites da Guiana, com a França, que encontrara, na liquidação da firma Didot, resma de volumes ainda por encadernar. O preço devia ser baixíssimo; no entanto, o livreiro, "auvergnat" avarento e ganancioso, recuou ante a despesa. Depois muito se arrependeu, perdidas as esperanças de novamente encontrar as pilhas desaparecidas. No correr de pesquisas, pedimos a um amigo francês, relacionado com as "demoiselles" Didot, cuja caçula contava mais de 70 anos, derradeiras representantes da famosa firma, esclarecimentos sobre a obra de Jean Baptiste. A resposta foi decepcionante, porquanto ela e as irmãs nunca tinham ouvido referências a respeito, nem sabiam quem era Debret. Supúnhamos inútil continuar a procura, quando Blaise Cendrars nos indicou antigo livreiro da Rue Monsieur-le-Prince, especializado em livros sobre Medicina, o qual certa vez lhe falara no Voyage. Fomos procurá-lo e soubemos que as pilhas vistas no depósito da impressora tinham sido vendidas a uma livraria de Louvain, destruída com a cidade pelos alemães em 1914.

Os desenhos e aquarelas de Debret alcançam hoje alto preço, tanto entre nós como nos antiquários europeus e norte-americanos, surgindo até alterações dos originais, como praticava o parisiense nascido em Mato Grosso, "brasilianista"

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